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Blog do Juca Kfouri

Uma perda (ou pedra) no meio do caminho

Juca Kfouri

09/09/2022 10h10

POR LUIZ GUILHERME PIVA

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, avançava para sua terceira final de Libertadores consecutiva e, quem sabe, para o tricampeonato e a terceira tentativa seguida de disputar o almejado Mundial. Mas esbarrou no Athletico, dirigido por Felipão, e amargou a perda da vaga.

Ficou pelo caminho.

Abel é discípulo e fã de Felipão. Viu-o ser campeão do Mundo em 2002 pelo Brasil e dirigir, de 2003 a 2008, a seleção de Portugal, pela qual o brasileiro obteve grandes conquistas: foi vice-campeão da Eurocopa em 2004 e quarto colocado na Copa do Mundo de 2006.

Felipão chegou a convocar Abel para a reserva da lateral-direita da esquadra lusa em 2004.

Como técnicos, enfrentaram-se três vezes. Felipão se saiu melhor em todas: na primeira, por 2 X 0, no campo do Palmeiras, pelo Brasileirão, em julho; na segunda, por 1 X 0, no estádio do Athletico, pela Libertadores, em agosto; e na terceira, no empate em 2 X 2 desta semana, também na casa verde, exatamente o resultado que valeu aos paranaenses a classificação à final da Libertadores.

A relação entre os dois parece aquela que, no antigo seriado "Kung Fu", que foi sucesso na TV nos anos setenta, um discípulo (apelidado de Gafanhoto, que viria a ser o herói protagonista da série) mantinha, no seu longo processo de iniciação, com um velho mestre.

Periodicamente ele era submetido ao teste de ter que tirar uma pedra da palma da mão do tutor – mas não conseguia. O mestre, mesmo muito mais idoso, mas muito mais ágil, fechava os dedos antes da ação do discípulo.

– Quando você tirar a pedra da minha mão, estará na hora de ir embora – ele ouvia sempre.

Até que um dia ele conseguiu, sagrou-se mestre e pôde seguir o seu caminho.

No final de outubro, Abel Ferreira enfrentará novamente Felipão pela 34ª rodada do Campeonato Brasileiro, na casa paranaense.

Se vencer, Abel poderá, enfim, exibir a pedra retirada da mão do velho tutor e, livre, seguir a sua saga.

Senão, permanecerá, com a nova perda, submetido às provações do duro aprendizado, louvando o seu ídolo de mãos postas.

Como Gafanhoto.
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Luiz Guilherme Piva publicou "Eram todos camisa dez" e "A vida pela bola" – ambos pela Editora Iluminuras.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/