O sequestro do São Paulo
POR PAULO EGREJA*
O time grande, quando entra em crise – a fila, a sucessão de atletas ridículos, os vexames – vive um paradoxo: ele ao mesmo tempo é e não é a instituição que ele representa.
Quando criança, eu vi o Palmeiras ser campeão pela última vez aos 9 anos de idade. Depois disso, só fui ver outro título grande, a Copa do Brasil de 2012, aos 21 anos. Neste intervalo, só os palmeirenses sabem como eu sofri nas arquibancadas do Palestra Itália. E hoje, os são-paulinos sabem também.
Da mesma forma que o Palmeiras de Gioino, Eguren e Adriano Michael Jackson não era o Palmeiras da Academia, o Tricolor que joga hoje não é o de Raí, Careca e Telê. Ao mesmo tempo, no entanto, é a mesma camisa, o mesmo nome, o mesmo escudo. E o mais doloroso: a mesma torcida.
É uma sensação alucinante essa de olhar para o gramado e pensar "o que fizeram com meu time?". É um sequestro. E ninguém sabe qual o preço para tê-lo de volta.
No caso do São Paulo, porém, os responsáveis tem nome.
Enquanto eu sofria com o Palmeiras nos anos 2000, o São Paulo empilhava taças; e a mesma pergunta que se faz hoje, se o Flamengo virará o novo Bayern de Munique que dominará o futebol brasileiro, era feita sobre o tricolor do Morumbi. E em uma década tudo foi colocado abaixo.
Roubando a frase do Darcy Ribeiro, a crise do São Paulo não é uma crise, mas um projeto.
Do terceiro mandato de Juvenal em diante, diretorias fizeram tudo por si e nada pelo clube. E o resultado disso é esse time que entra em campo com a camisa do São Paulo, com as estrelas de campeão do mundo do São Paulo e joga no estádio do São Paulo, mas não é o São Paulo. Porque o São Paulo é muito mais.
É o time onde a moeda cai em pé; hoje, se jogarem a moeda para cima, é capaz de algum diretor guardá-la no bolso.
E para comprovar minha tese, enquanto time se afunda numa crise técnica que envolve duas possíveis eliminações e até uma briga por rebaixamento, os dirigentes estão preocupados com o quê?
Articular uma reeleição, repetir o erro que deu início a tudo isso, lá atrás, quando Juvenal emplacou o terceiro mandato.
E aquele São Paulo, o campeão, segue sequestrado. E este é o maior crime do futebol. O São paulino merece ter seu time de volta.
*Paulo Egreja é escritor.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/