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Blog do Juca Kfouri

Os problemas de um time sem problemas

Juca Kfouri

27/06/2022 08h51

POR JOSÉ LUIZ PORTELLA

A insistência de Abel com Navarro é inexplicável. 

Navarro não tem nenhuma habilidade básica, nenhuma; não finaliza, não passa, não protege a bola como pivô, não cabeceia. E comete muitas faltas.

Ontem, de novo, assistimos a teimosia vencer o descortino.

Em vez de colocar time alternativo, e depois introduzir os titulares, Abel deveria efetuar o inverso: colocar o time titular, e depois que o jogo estivesse encaminhado, substituí-los paulatinamente.

Do jeito que faz, perde um tempo, e corre atrás de corrigir o prejuízo.

Avaí, apesar de lutador e forte em seus domínios, é bastante inferior ao Palmeiras, e houvesse os titulares em campo, no primeiro tempo, Palmeiras teria resolvido o jogo.

Outra teimosia: embora o time esteja horrível no primeiro tempo, como na etapa inicial contra o São Paulo, na virada, e, em todo jogo , na derrota 0x1, ele não troca. É a hora do "pai, no lugar do treinador".

Ontem, aos 50min e 30 segundos do primeiro tempo, quando o juiz havia anunciado 5 minutos de acréscimo, Navaro, em vez de reter a bola, fez um mais um passe errado, comprido, e Jorge, em condições técnicas lamentáveis, jogou-se, evitou a saída de bola, no ataque, entregando-a ao Avaí, que lançou pela direita. Gustavo Gomez, um craque, viveu seu momento "final do Paulista contra o Corinthias" e fez um pênalti infantil. Gol do Avaí. 

Quem escalou Jorge e Navarro, atletas que não reunem condições mínimas para vestir a camisa do Palmeiras? Ambos erraram, mais uma vez.

Abel é um grande técnico, sem dúvida moldou e mudou o Palmeiras, mas a bajulação permanente que a mídia faz, o torna arrogante e dono da verdade. 

Ele acerta muito em termos de estratégia de jogo e motivação dos atletas, mas erra bastante em escalações e nas substituições.

Além de reclamar demais, tantas vezes sem base. Irritando o árbitro, que se vira contra o Palmeiras, como Rafael Klaus.

A mídia esportiva e os torcedores não conseguem realizar uma análise. 

Ou exageram na crítica, ou no elogio rasgado, sem senso das proporções. A se debater contre o princípio humano da falibilidade. Nós falhamos, mesmo sendo formidáveis em algo.

O complexo de vira-latas nos faz oscilar do céu ao inferno, com a volatilidade de uma coluna de mercúrio. Temos que classificar o outro como  ¬o pior vilão, ou ¬o maior heroi. Baixa autoestima, gera radicalizações.

Abel fez um lindo gesto ao dar seus tênis para o menino Pedro Henrique, que vive na rua, a simbolizar nossa vergonhosa desigualdade.

Abel é humano e sensível. Merece todos os elogios nesse sentido. 

O que não o isenta de críticas como treinador, as quais reage com autoritarismo lusitano, formador de nossa personalidade, e a arrogância que o remete à colonização.

Diante do vexame da organizacional do nosso futebol, constelada por Fabio Koff , que se agudizou com Ricardo Teixeira e se acentuou ainda mais com Marco Polo Del Nero, Abel parece um anjo que surge do horizonte em crepúsculo, com precisão, comentando coisas óbvias, que vários jornalistas e analistas brasileiros repetem há anos. Como Abel virou estrela, parece que ele inventou a roda. E nosso déficit de dirigentes exponencia.

O alviverde imponente ganhou muito com Abel, mas, se ele for questionado, saindo do pedestal do Olimpo, ganhará muito mais.

Palmeiras não busca mais ter time para ser Campeão Brasileiro ou da Libertadores, isso já tem, até pela debilidade dos oponentes, Palmeiras procura ter time para enfrentar o Real Madrid. 

Nesse contexto, nem Piquerez, Rony, Wesley, Zé Rafael (apesar da melhora), Marcos Rocha por conta do estado físico (não do técnico), Atuesta, Breno Lopes (ícone) se adequam. Navarro e Jorge são escárnio, para quem quer vencer Real Madrid.

Para tal nível, o Palmeiras tem Weverton, Rafael Veiga, Danilo (antes da Seleção), Gustavo Gomez, e Scarpa,de reserva, quando está sem papel peladeiro e perdas infantis de bola. Ontem, cansou de errar.

A diretoria atual que tem vivido em ambiente de glória, poderia explicar quem contratou Navarro e Jorge.

O Palmeiras está sob o pior dos escrutínios. Pode vencer tudo, e qualquer coisa que perder, ele será cobrado pela imprensa, repleta de paroxismo.

Se ganhar, vão dizer que era lógico, se perder, vão enxergar os defeitos que não veem agora.

Abel precisa acordar antes disso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/