Remo inoculante, a um passo de evitar o tri no Pará
POR ANTONIO CARLOS SALLES*
O Clube do Remo largou na frente ontem (3/4) para a decisão do 110o. título estadual ao golear o rival Paysandu por 3 a 0, placar confortável para o jogo de volta na próxima semana.
O Remo está muito próximo do quadragésimo sétimo título estadual de sua história, enquanto que o Paysandu, se não reagir, ficará sonhando com o quinquagésimo título paraense e com o tricampeonato.
A disputa pelo título estadual existe desde 1908.
Mas a partir de 2003, os dois clubes chegam fácil à conquista de bicampeonatos, mas não ao tri.
Dessa vez, o Paysandu tinha certeza, de que o tricampeonato viria. Mas o Remo está muito próximo de evitar..
Lugar cativo e histórico nas figuras do Papão e Leão, mitos amazônicos da expressão de força, fúria e atemorizantes que representam os dois clubes, dessa vez foram trocados, de acordo com o olhar clínico e atento do jornalista Carlos Ferreira.
Ao acompanhar os treinamentos finais de Remo e Paysandu para a decisão do 62o título do futebol paraense entre os dois clubes, o jornalista viu nas instruções dos técnicos detalhes táticos e refinados que lembram as picadas de uma cobra coral, cascavel ou naja.
Cobras venenosas, no dizer dos especialistas, defendem-se de eventuais ameaças valendo-se da espreita camuflada e surpreendente para inocular a dose certeira de veneno que irá combalir a defesa terapêutica e afrouxar sistema imunológico de suas presas.
Ferreira viu nos dois treinadores e na aplicação dos elencos estratégias peçonhentas, sutis e paralisantes para deixar o adversário cambaleante, pronto para receber a picada letal, ante a força brutal dos animais que representam os dois times.
Uma estratégia à Abel Braga, na conquista do título carioca pelo Fluminense semana passada.
Os detalhes do jogo de domingo são bem evidentes dessa teoria.
O Paysandu atacou mais, chutou mais vezes ao gol e nada produziu.
O Remo atacou cinco vezes e fez três gols.
Ação certeira de time que não perde o bote, ou a mordida na veia grossa para enxertar veneno na corrente sanguínea e paralisar o adversário.
A vitória remista mostrou que as presas estão afiadas para o jogo final e que o estoque de veneno não foi totalmente usado pelos atletas azulinos.
Ao Paysandu, restaram litros de soro antiofídico para ver se é capaz de alterar o placar largo e venenoso a favor do Remo.
Os jogos decisivos estão sendo disputados nos tradicionais estadios dos dois clubes, como não acontecia faz longo tempo.
O jogo de ontem foi no Antonio Baena (Remo) e o próximo será no Leonidas Castro (Paysandu), uma vez que o Mangueirão somente reabrirá em setembro, após obras de modernização e adequação às novas exigências internacionais.
O Remo picou três vezes e acertou a presa.
O Paysandu, que se vire agora atrás de um soro bom. E de algum futebol.
*Antonio Carlos Salles é jornalista.
Nota do blog: ao contrário do publicado originalmente, o Remo não lutava pelo tricampeonato e sim o Paysandu.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/