O Corinthians, enfim, admite a SAF

Embora tradicionalmente refratário à ideia, o clube começa a pensar diferente
O discurso da direção alvinegra, há tempos, nos da Democracia Corinthiana inclusive, jamais admitiu a ideia do futebol empresa.
Traduzia-se na ideia simplória de que o Corinthians, tão popular, não poderia ter dono.
Fazia sentido, demagogicamente era fácil de vender e, de Vicente Matheus em diante, fins dos anos 1950, ironicamente, o que o Corinthians teve de "donos" foi uma grandeza.
Pois eis que novos ares parecem refrescar as cabeças em Parque São Jorge e já se admite, ao menos, estudar o assunto diante da aprovação da lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Há uma premissa inegociável para levar o assunto adiante: ninguém pode ser dono do Corinthians, razão pela qual, diferentemente dos modelos adotados por quem está aderindo à nova legislação, pensa-se em partir diretamente para um IPO, na direção de criar, de fato, "o time do povo".
Significa dizer que por esse meio serão estabelecidas regras de governança pelas quais ninguém poderá ter participação maior do que seja razoável — e se possa captar recursos proporcionais ao tamanho da Fiel.
Há, também, uma situação de fato, facilmente constatável: a atual dívida é impagável se o clube seguir com o modelo de gestão em curso.
Clube mais popular no maior mercado do país, especialistas sérios estimam que o Corinthians valha alguma coisa entre quatro e cinco bilhões de reais e que a captação via Bolsa de Valores de tais quantias seja muito menos complicado do que se possa supor.
Aqui um parênteses para explicar o que é o IPO.
Recorra-se ao velho Google para simplificar a resposta: "IPO é o processo por meio do qual uma empresa oferece ações para o mercado pela primeira vez. Em outras palavras, é a distribuição inicial de ações em uma bolsa de valores que permite aos investidores adquirirem partes de uma companhia".
Não é preciso ter muita imaginação para supor sobre o que acontecerá, entre corintianos ricos e investidores em geral, diante da possibilidade da oferta de ações que alavanquem uma das maiores paixões nacionais.
Ou como mesmo aqueles alvinegros menos afortunados poderão participar do esforço para recolocar o time em posição privilegiada, além do mais com rendimento de dividendos caso a administração do Corinthians SA seja feita com competência e responsabilidade — e não faltam profissionais capazes para tanto.
Fácil não é e nem será convencer quem está há mais de um século acostumado a gerir da mão para a boca e, muitas vezes, para os próprios bolsos.
O simples fato de que já se admita discutir o tema, como ora acontece nos bastidores de Parque São Jorge, significa avanço ponderável, por mais que, provavelmente, desmintam as conversas.
Caso os torcedores pressionem na direção de novos tempos o processo tenderá a ser mais rápido, como a preocupante situação do clube exige.
Dado o tamanho de sua torcida e o potencial do mercado paulista, se houver inteligência, desprendimento e o real interesse em entrar para a história corintiana como marco de novos tempos, o grupo que hoje dirige o clube tem a oportunidade de se notabilizar como aqueles que até hoje são lembrados por tê-lo fundado em 1910.
Lá se vão mais de 110 anos e a hora de dar o passo em direção ao futuro está posta.
Há quem saiba fazer, recursos existem, falta só coragem.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/