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Blog do Juca Kfouri

Netflix fez série chapa branca sobre Neymar

Juca Kfouri

03/02/2022 00h20

POR ROBERTO GERVITZ*

A série NEYMAR que está na Netflix é essencialmente "chapa branca", pobre no aproveitamento dos entrevistados a quem estigmatiza, principalmente os representantes da mídia que encarnam a voz que busca destruir o "menino de ouro" (mas não foi também a mídia que o fabricou?) A série aproveita muito pouco as polêmicas vividas por Neymar para revelar de forma mais complexa quem ele é…Neymar é um monstro jogando, mas a raiz de sua incapacidade de ir mais longe, pode estar em uma personalidade que não chegou a se formar por completo. As lacunas são patentes.

Desde o início, Neymar foi visto como uma valiosa mercadoria e uma poderosa alavanca de ascenção social por seu pai, o todo-poderoso, muito hábil e obcecado que administra a sua carreira desde o início. Mamãe não cobra e seu colo é seu porto seguro. Ela porém não opina nas questões de homem.

A relação que Neymar tem com o pai está na raiz da triste infantilização que ele exibe em toda a série e na vida. A série apenas reflete essa questão que está no âmago da sua personalidade e das suas eventuais limitações como ser humano e jogador.

Neymar não podia e não pode crescer para que seu pai permaneça no controle de tudo. Para isso, ele precisa fazer que o filho sinta mais e mais a necessidade de sua presença. De maneira terrivelmente inteligente ele vai mudando sutilmente seu discurso ao longo do tempo. E sempre com a justificativa de estar construindo um império que no futuro será dirigido pelo filho a quem tudo pertence. É quase uma escravidão pactuada, pois o filho age também como criancinha.

Como não poderia deixar de ser, Neymar é de uma inconsequência assustadora, até por isso mesmo, a sua condição chega a nos penalizar, tal a sua fragilidade psíquica, a sua nutrida preguiça mental e ignorância. Sem falar nos parças limítrofes que o cercam e que deixam patente a sua misoginia.

Sem dúvida. a imensa pressão da torcida e da mídia, o massacram, pois ele não tem estrutura mental para suportar isso que é uma tarefa hercúlea. Maradona viveu algo parecido e pior, pois entrou no mundo das drogas e acabou se destruindo.

Neymar não corre tanto risco, pois tem o seu todo-poderoso pai a quem, tal qual um adolescente ele contesta, mas no final das contas, obedece. O que vai ser quando e se, ele acordar?

*Roberto Gervitz é cineasta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/