Clube do Remo ganha a Copa Verde. E agora?

POR ANTONIO CARLOS SALLES*
Foi nos penalties e foi chorado.
O Clube do Remo conquistou sua primeira Copa Verde depois de dois empates sem gols com o Vila Nova (GO) no sábado (11), e transformou a capital paraense num imenso oceano azul, aquele mar azul e intenso, das águas profundas.
Festa épica e emblemática. O Remo não conquistava um título jogando no estádio Evandro Almeida, região central da cidade, havia mais de 40 anos.
Ano passado a equipe azulina perdeu a disputa final nos penalties para o Brasiliense e na decisão de 2015, fez 4 a 1 contra o Cuiabá no jogo de ida, placar que sugeria um título folgado, mas perdeu o jogo de volta por 5 a 1.
Não à toa a conquista de 2021 enebriou a enorme torcida remista, ainda incrédula e sem entender como um time que oscilou entre os 12 primeiros durante grande parte da Série B, com chances reais de lá permanecer, definhou de forma grotesca nas rodadas finais do campeonato e está de volta à C, onde permaneceu o Paysandu.
A chegada de Eduardo Batista para dirigir o time na reta final da B e para a Copa Verde foi uma decisão para o futuro.Agora é ajustar o que der e planejar o recheado e espremido calendário da temporada 2022.
Um dos clássicos mais jogados do mundo promete reencontros apimentados no próximo ano, aquecimento regional para a Copa do Mundo, no Catar.
Mas a Copa Verde merece mais.
Mais atenção e mais amplitude. Da visibilidade à premiação, dos que organizam e dos que participam.
A Copa Verde pode rivalizar em atenção com a Copa do Nordeste, assim como seus principais clubes podem alcançar o equilíbrio que desfruta o maranhense Sampaio Correa, por exemplo.
A ação pede ousadia e descolamento político partidário.
Copa Verde é um nome forte e está intimamente ligado à preservação da floresta Amazônica, diariamente vilipendiada no desrespeito às comunidades indígenas e ribeirinhas, na exploração dos garimpos ilegais e no desmatamento sem freios.
A plataforma Terra Brasílis informa que cerca de 17% do bioma Amazônia já foram desmatados. Um descalabro!
O futebol pode e deve ser um agente educador sobre a importância do "Inferno Verde", para usar a expressão do pesquisador Alberto Rangel, nos estudos sobre a região feitos no Século passado.Como seu orientador Guimarães Rosa, Alberto Rangel era apaixonado por futebol.
E por florestas.
*Antonio Carlos Salles é jornalista.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/