Secar é preciso, torcer não é preciso
POR PETRONIO PORTELLA NUNES FILHO*
POR PETRONIO PORTELLA NUNES FILHO*
Que me perdoem os fãs de Fernando Pessoa por adulterar sua citação sobre os navegadores portugueses. E que me perdoem os amigos flamenguistas. No sábado, torci pelo Porco e sequei o Urubu. Comemorei o resultado do jogo, apesar de só gostar de porco na forma de lombo bem passado ou de bacon.
Antes de ser torcedor, sou secador. E não seco só o Flamengo. Em todo jogo de futebol que não seja do Botafogo, seco o mais forte. Como assisto em média a dez partidas por semana e só uma é do Glorioso, sou muito mais secador do que torcedor.
Mas não tenho nada contra o time da Rede Globo. Se os deuses do futebol ouvirem minhas preces e o rubro-negro voltar a ser o fracote de outras épocas, dirigirei minha poderosa energia negativa para outros alvos.
Sou um secador feliz. Aliás, devo confessar que secar é mais prazeroso que torcer. Enquanto o torcedor sofre mesmo quando vence — os botafoguenses que o digam, o secador é um bon vivant. Ele é o único que consegue entender que decisão de campeonato é entretenimento e não drama shakespeariano.
Se o Porco tivesse perdido, eu não teria deixado de curtir o espetáculo futebolístico. E, ao final da partida, eu até faria piada com o "cheiro verde" palmeirense. O Porco tinha perdido as duas decisões disputadas em 2021. E, de minha parte, também gosto de zoar o time de Jair Bolsonaro e Felipe Mello.
Ser secador não me impede de ter afeição por outros times além do meu. Os secadores também amam. Nunca deixei de torcer pelo River Atlético Clube, de minha Teresina. E, durante o Doutorado na Unicamp, adotei o Corinthians como segundo time. No Brasileirão, meu coração bate em sincronia com as duas torcidas mais fiéis do Brasil, a fiel carioca e a fiel paulista.
*Petronio Portella Nunes Filho é advogado, doutor em Economia pela UNICAMP, assessor do Senado Federal e provocador.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/