Se Renato é tricolor, Bebeto é vascaíno

POR BERNARDO PASQUALETTE
A situação que roubou à cena no Fla x Flu disputado nesse sábado no Maracanã pouco tem a ver com o resultado final da partida, vitória incontestável do Fluminense por 3 x1. Já no segundo tempo, quando a atuação tricolor era inconteste, a torcida pó de arroz reverenciou o antigo ídolo: primeiro o tradicional coro "Renato Gaúcho"; em seguida, surgiu o canto que imortalizou o clássico na memória coletiva do futebol carioca – "Eô, eô, o Renato é tricolor!".
Será?
Seja como for, a situação não é de todo incomum nos anais do futebol carioca. Curiosamente, há exatos 25 anos, situação idêntica já ocorrera envolvendo outro personagem do futebol do Rio de Janeiro: Bebeto.

Naquele início de outubro de 1996, Bebeto retornara à Gávea ainda em plena forma, consagrado pelo tetracampeonato e por temporadas muito boas no futebol espanhol.
No entanto, nem tudo foram flores em seu retorno ao Flamengo. Com dificuldades para se readaptar, o segundo semestre de 1996 não foi fácil para o antigo ídolo rubro-negro. O ápice desse processo ocorreria diante do maior rival rubro-negro a nível estadual – o Vasco da Gama.
Numa tarde nublada no Maracanã, Vasco e Flamengo duelariam pela primeira fase do Brasileirão daquele ano. Edmundo, com três gols, seria o grande destaque daquela partida, que acabaria em goleada cruz-maltina: 4 x 1.
Há exibição de gala do "Animal" só não foi mais marcante que o evento curioso que ocorrera naquele jogo: em um primeiro tempo de relativo domínio rubro-negro, eis que foi marcada uma penalidade máxima para o Flamengo. Bebeto, antigo ídolo vascaíno se prepara para cobrar, gerando grande e natural expectativa no então maior estádio do mundo.
Provavelmente saudosa do Campeonato Brasileiro de 1992, quando Bebeto se sagrou artilheiro e foi o grande destaque do Vasco na competição, a torcida cruz-maltinanão perdoou o antigo ídolo naquele momento decisivo: "Bebeto é vascaíno, ô, ô, ô!".
Se esse coro desestabilizou o eterno tetracampeão nunca se terá certeza, mas o certo é que o craque cobrou a penalidade na trave para delírio dos cruz-maltinospresentes no Maracanã.
Ao final do jogo, quando o Vasco já ganhava por 4 x 0, nova penalidade para o Flamengo. Bebeto, ainda em campo, teve que ouvir a torcida vascaína entoar em coro o seu nome antes da cobrança – "Bebeto, Bebeto". O tetracampeão não teve outra alternativa a não ser colocar a bola debaixo do braço e cobrar, dando números finais àpartida e fazendo o gol de honra do Flamengo naquele jogo.
Uma última curiosidade sobre o campeonato brasileiro de 1996: aquela disputa marcou uma das raras atuações da dupla da treta – Romário e Bebeto – jogando por um clube, ambos ainda em plena forma. Foi apenas em um tempo, na derrota rubro-negra para o Internacional por 2 x 1.
Mas essa é outra história, que o blog um dia ainda vai contar…
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