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Blog do Juca Kfouri

Nascidos um para o outro

Juca Kfouri

28/10/2021 18h57

POR JOSÉ LUIZ PORTELLA

Renato Gaúcho e o Flamengo foi um casamento perfeito. 

Acho Renato um técnico razoável nenhuma Brastemp, vagando entre uma nota 6,0 e 7,5, nos melhores momentos. Não é um estrategista, não substitui bem , mas dá pegada ao time, como bom gaúcho; e sabe lidar com  o vestiário, é bom de vestiário, se entende bem com os jogadores.

Já a diretoria do Flamengo, o presidente principalmente, acho um desastre.

Mas, os opostos se atraem. E se atraem pelas coincidências.

Ambos, técnico e presidente são terrivelmente presunçosos, arrogantes e provocam anticorpos. 

Se Renato vencer a Copa Libertadores, voltará toda a empáfia que havia quando ganhou títulos no Grêmio, e a "pinimba" que tem com Jorge Jesus, numa disputa de egos. O português também é metido.

Nesse sentido; arrogância, prepotência, Renato e diretoria foram feitos um para o outro e servem para tornar o Flamengo, clube de apelo popular, em time antipático, que as pessoas mais neutras no futebol, torcem para perder. Imagine os outros torcedores. Ontem, o time com maior torcida no Brasil era o Furacão, apesar do Petraglia.

Em vez de transformarem o Flamengo em clube modelo para ajudar a alçar o futebol brasileiro em termos de gestão e profissionalismo, Renato e presidente, se esforçam por torná-lo opaco, desagradável e pouco atrativo.

E não dão a menor bola para isso, até parecem gostar, poque apreciam se diferenciar pela soberba. 

Contudo, a vaidade come o vaidoso. Assim como a esperteza.

Quase todo mundo tem alguma vaidade, é normal, as pessoas precisam de autoestima e pensar que são melhores do que são. Senão, caem em depressão.

O problema são os excessos, a constância e a subestimação dos outros. E o resultado.

Millôr Fernandes disse: "Não ter vaidade, é a maior de todas". 

Porém, também alertou para sabermos o que somos ao fim e ao cabo: "O cadáver é que é o produto. O ser humano é apenas a matéria prima".

A entrega de cargo de Renato é um ato que mostra sua personalidade.

Não aguenta as críticas. Deu uma entrevista assumindo a culpa da derrota, numa falsa modéstia, a pior das vaidades; disse que entendia a revolta da torcida; falou em virar a página e pensar no sábado, e pediu demissão. Não suportou a pressão, que dizia entender, e sabia que a um mês da Libertadores, e dias da decisão com o Atlético, a diretoria não iria aceitar. Jogou para a plateia. Para a torcida de si mesmo.

Renato é esperto, mas ninguém é bobo.

Ele tem condições de ganhar a Libertadores. Todavia, seu maior adversário não é o Palmeiras, é ser humilde. Para baixar a bola da altivez, treinar, e passar uma força ao time, que precisa de um comando. Desistir é fugir. Pior, se for uma desistência planejada para não ser. Uma fanfarronice midiática.

Um "me segura senão eu brigo".

Se ele perde a Libertadores, pode pedir demissão, que a diretoria aceita.

Rodolfo Landim terá feito um feito espetacular: perder quase tudo em um ano. Em que achava que ganharia tudo. Ficar dependurado no campeonato do ínclito "Rubão Lopes", vai ser engraçado. Renato e Landim nasceram um para o outro. Mas, o divórcio pode ser litigioso.

As vaidades, na pobreza, não se combinam.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/