Topo

Blog do Juca Kfouri

Faltou dignidade na demissão de Crespo

Juca Kfouri

13/10/2021 21h03

POR ELIAS AREDES JUNIOR

Educado nas entrevistas coletivas. Dedicado ao extremo ao seu ofício. Errou, acertou, inventou, comemorou vitórias, colheu derrotas. Quem assistiu do lado externo viu o técnico Hernan Crespo dedicar-se de corpo e alma ao São Paulo.

O trabalho estava ruim?

Concordo. Só que nesse enredo da vida do são Paulo faltou um procedimento na direção do ex-técnico do tricolor paulista: tratamento digno.

Uma parte relevante da torcida são-paulina pode até concordar com a saída do comandante argentino.

É do jogo.

Ninguém agrada a todos. Mas se o dirigente tem o direito de contratar, promover e demitir, também é verdade que tudo deveria ser feito em um ambiente cavalheiro, cordato, sem a impressão de encontrar-se envolvido em um ambiente tóxico.

Crespo acreditou nas promessas da diretoria. Crespo não foi atendido. Mesmo assim, Crespo seguiu em frente. Deu o seu melhor. Em troca recebeu uma demissão à tarde e viu seu substituto ser anunciado  minutos depois, Rogério Ceni.

O ex-goleiro e ídolo não têm culpa. Zero. Trapalhada e pisada de bola dos dirigentes, incluindo Muricy Ramalho, contratado para mudar procedimentos e que agora parece entregue a este setor esportivo com ambiente corrosivo chamado futebol brasileiro.

Impossível censurar Hernan Crespo se ele estiver com um gosto amargo na boca.

Demitir Crespo desta maneira traz consequência prática. E sem lado positivo

O nosso modo tosco de gerir e administrar futebol ganha "propaganda involuntária" pelos quatro cantos do mundo. Para um Jorge Jesus encantado pela sua história no Flamengo tem  um Paulo Bento decepcionado pelo Cruzeiro, um Eduardo Coudet descontente pelo Internacional(RS) e um Hernan Crespo no São Paulo.

Cada um tem uma história triste e deprimente para contar. Azar do futebol brasileiro.

Afinal, quem determinou que a derrota é sinal verde para se abrir mão de um tratamento digno e claro ao seu funcionário? Impossível deixar de notar isto na saída de Hernan Crespo do São Paulo. Ora, se não existia mais convicção que o desligamento fosse efetuado na terça-feira. Demitir às vésperas de um jogo e durante uma atividade é algo muito constrangedor.

O São Paulo, clube que um dia foi motivo de orgulho nacional, hoje reforça dia após dia a sua nova característica: a incompetência. Triste.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/