Abel Ferreira: feliz é aquele que sabe vencer no futebol
POR ELIAS AREDES JUNIOR
Abel Ferreira é bom treinador. Tem conceitos defensivos sólidos, é competitivo e colocou o Palmeiras na prateleira principal do futebol brasileiro. Isso não tem relação com dinheiro ou capacidade de investimentos. Os recursos jorram há tempos no clube palestrino e por bom periodo a equipe trocava de técnico como troca de camisa e não chegava às decisões. Agora é protagonista. Mérito dele.
Mas Abel Ferreira é humano. Erra. Pisa na bola. Monta escalações erradas. Comete erros nas substituições. Não é perfeito. Como ninguém é. De modo coerente, cronistas esportivos e torcedores reclamavam do rendimento do Palmeiras dos últimos jogos no Campeonato Brasileiro. É do jogo, inerente ao debate da opinião pública.
A reação de Abel Ferreira, após a classificação para a final da Copa Libertadores revelou um defeito dele e do mundo do futebol: o desrespeito ao contraditório.
Quando um treinador não aceita criticas dirigidas ao seu trabalho, isso nada mais é do que um gesto de carinho ao extermínio do debate. Pior: quando você não tolera a conversa a decisão é desqualificar o interlocutor.
Querem uma prova? No inicio de uma das respostas na entrevista após o empate com o Atlético Mineiro, Abel Ferreira saiu com esse conceito antes de explicar um esquema com três zagueiros. "Essa conversa é gasta. Não vou gastar tinta com quem entende pouco de futebol(…)", disse o treinador no inicio de sua exposição. Se isso não for desqualificação do semelhante, eu não sei como definir. O xingamento ao vizinho (que ninguém sabe quem é) foi apenas a pá de cal deste cenário tenebroso.
A atitude de Abel Ferreira e de outros treinadores do futebol brasileiro retrata algo verificado na sociedade e impregnado no futebol: o fechamento ao diálogo e a paixão pelo monólogo.
O treinador (qualquer um!) só quer responder perguntas doces. Dirigentes se negam a prestar esclarecimentos de suas ações. Torcedores usam as redes sociais para perseguir jornalistas ou qualquer formador de opinião com disposição de incentivar o espiritocritico e o poder estabelecido.
A explosão de Abel Ferreira escancarou como o futebol brasileiro virou um ambiente tóxico. E o treinador, queira ou não, utilizou tal conjuntura em seu favor na entrevista coletiva. Como muitos torcedores estão "intoxicados" por esse clima de intolerância, é lógico que todos abraçaram os adversários eleitos pelo treinador na coletiva.
Tal postura fica longe do pensamento que Sócrates e outros integrantes do movimento que sacudiu o Corinthians e o Brasil na década de 1980 e intitulada Democracia Corinthiana. "Ganhar ou perder mas sempre com democracia". Vitórias, gols e conquistas perdem parte do valor quando atira-se no lixo a capacidade de ouvir o outro.
Feliz é aquele que reconhece a derrota. Diferenciado é quem sabe ganhar. Infelizmente, Abel Ferreira demonstrou que ainda não faz parte plenamente do clube quando alcança a glória. Uma pena.
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