A canoa furada do BNDES
As relações entre o BNDES e a canoagem brasileira, infelizmente, são águas passadas.
Está na conta da gestão de Gustavo Montezano à frente do BNDES o inexplicável fim do apoio à vitoriosa canoagem brasileira, que conquistou medalha de ouro em Tóquio, com Isaquias Queiroz.
A decisão de extinguir o amparo à modalidade contraria estudo elaborado pelo banco estatal, em 2011.
Então, fez-se um ranking a partir do qual o BNDES concluiu que a canoagem era esporte potencialmente promissor e merecedor de patrocínio que a ajudasse a se desenvolver.
O BNDES optou pelo apoio à canoagem após avaliar, entre outros critérios, o número de praticantes, o espaço em desenvolvimento e os impactos socioeconômicos.
A modalidade ocupava a melhor posição (5º lugar) entre as sem patrocínio de outra estatal.
As quatro primeiras já eram patrocinadas por empresas públicas e sociedades de economia mista, no caso o boxe (Petrobras), o judô (Infraero), o atletismo (Caixa) e a natação (Correios).
Com o patrocínio do BNDES, tudo mudaria, e muito!, para a canoagem, com o banco estatal investindo pesado na modalidade.
Em 2013, o pessoal da canoagem recebeu R$ 6,2 milhões para expandir o esporte.
A verba serviu para implantar um centro de treinamento de velocidade em canoa, em São Paulo, onde treinaram Isaquias Queiroz, Erlon Souza, Ronilson Oliveira e Nivalter Santos, e manter por um ano a equipe permanente de canoagem slalom, em Foz do Iguaçu.
O BNDES estava empolgado com o Plano "Brasil Medalhas 2016", do governo federal.
E as medalhas da canoagem vieram em campeonatos mundiais e na Olimpíada Rio 2016, tendo Isaquias Queiroz como protagonista.
Mas o patrocínio do BNDES, ainda na gestão do economista Dyogo Oliveira, teve idas e vindas por conta de problemas com certidões que deveriam ser repassadas ao banco pela Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa).
Saiu Oliveira entrou Joaquim Levy, em janeiro de 2019, ou seja, quatro meses após o último apoio oficial do BNDES à canoagem. Levy queria reestruturar o patrocínio, porém sequer esquentou a cadeira da presidência do banco. Após uma rusga com o presidente da República, deixou o cargo em junho de 2019 sem poder manter o BNDES como patrocinador dos atletas da canoagem.
Saiu Levy entrou Gustavo Montezano. E afogou qualquer esperança.
Ao ignorar o sucesso da canoagem na Rio 2016, assim que assumiu o BNDES, Montezano vetou linhas de apoio ao esporte e à cultura.
Azar do BNDES, porque a vida seguiu para a turma da canoa.
Depois da esnobada da nova diretoria do banco estatal, a canoagem conquistou mais medalhas para o Brasil, sobretudo a de ouro, em Tóquio, com Isaquias Queiroz.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/