Olimpíadas: a superação e seus resultados
POR JOSÉ LUIZ PORTELLA
Após um lustro, 5 anos forçados pela pandemia, voltam os Jogos Olímpicos com o risco do Covid, um vírus que derrubou nossa arrogância mundial de sermos uma espécie imbatível.
O ser humano na glória se transforma em insuportável petulante repleto de vaidade. Ele realiza coisas maravilhosas e inesperadas, porque é ambicioso e inteligente; e faz coisas desastrosas e horripilantes como torturas, guerras e insensibilidade diante da pobreza alheia. Tocamos os extremos.
Com as Olimpíadas reaparecem os mesmos casos já contados inúmeras vezes, desde a primeira medalha brasileira, como os casos de superação passada de nossos atletas que chegaram ao glorioso pódio olímpico.
A superação é sempre uma história bonita, mas a nós, particularmente, ela provoca uma emoção extra de identificação.
Nossa origem humilde, embora a miscigenação promova uma mistura nos torna sensacionais em várias coisas.
Porém a origem como indígenas, escravos, mazombos tece, quase sempre, uma sombra de falta de autoestima, incorreta, mas que nos persegue.
Daí a superação ser nossa vingança contra o complexo de vira-latas.
Todavia, em vez de servir de fator de alavancamento para que o deixemos de uma vez, e partamos para as conquistas possíveis, a superação paira como um carma permanente. Fazendo com que façamos menos do que podemos.
A superação traz consigo seus significados.
Além de continuarmos vítima dessa armadilha que nos afeta desde a criação, no esporte, mostra que a maioria dos nossos atletas vêm das classes sociais mais carentes, e que lutaram muito para chegar ao pódio da vida.
Mostra nossa desigualdade vexatória e que ainda não demos cabo de extingui-la.
Não há um esporte universitário decente, alavancador e base para revelação de talentos. Assim como perdemos vários talentos para a pobreza, que não logram ter a oportunidade de se mostrarem, perdemos talentos na juventude mais bem aquinhoada. O que revela que não temos política no esporte, que deveria começar por massificar o exercício físico como atividade saudável e lúdica.
Os Nuzmans e Teixeiras e Havelanges nunca se preocuparam com isso, com o beneplácito de boa parte da crônica esportiva, que os levava a programas colocando-os em altar e dos empresários que investem no esporte só como umbral para a boa imagem, ou faturamento das suas empresas, sem pensar na profundidade que poderia ter o patrocínio.
Dão o dinheiro, aparecem, e está bom, chega, é o suficiente.
A superação nos emociona não só pela exibição da vitória contra a adversidade do padrão de vida de onde vêm os nossos principais atletas (grande maioria), mas porque também serve para nos autoenganar, que superamos a nossa pobreza desnecessária e abjeta e que nos dá a sensação, por uns minutos, de estarmos num pódio estrelado, com a bandeira do Brasil sendo içada.
Deveria servir para tomarmos o comando de nossas políticas públicas e fazer do país o lugar que ele pode ter.
E restaurar a confiança em nós e naquilo que já produzimos de qualidade e exemplo para o mundo.
A superação tem sido uma forma de elidirmos o mal que fazemos a nós mesmos. A perda do nosso potencial.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/