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Blog do Juca Kfouri

O risco da espanholização

Juca Kfouri

09/03/2021 13h13

O vizinho Julio Gomes (AQUI) convida ao bom debate: o evidente predomínio de Flamengo e Palmeiras revela que o futebol brasileiro já padece do mesmo mal que o espanhol, onde Barcelona e Real Madrid dão as cartas há anos?

Sim, se olharmos a fotografia do momento, talvez não se olharmos para o futuro com a lembrança do passado, aliás como Gomes registra.

Porque nada ainda nos dá a certeza da autossustentabilidade de nossos clubes.

O modelo de gestão ultrapassado, que já atinge até mesmo o Barcelona por seu modo associativo, põe em risco a longevidade do predomínio.

Ou o futebol é separado do clube social e se implanta a fórmula da Sociedade Anônima do Futebol, ou, mostra a experiência, ninguém se mantém saudável por muito tempo.

O Brasil tem tudo para impedir a espanholização, porque com clubes suficientemente populares para se manterem saudáveis, uma realidade que o tamanho das torcidas pelo mundo afora não conhece.

Para dar um exemplo simplificador, mas válido: em 2000, para surpresa do mundo, o Deportivo La Coruña quebrou a hegemonia na Espanha e ganhou o campeonato nacional. Pela primeira vez. E última.

A cidade de Corunha tem 250 mil habitantes e a província de Galiza, que a abriga, tem cerca de 2 milhões e 700 mil habitantes.

A Porto Alegre de Grêmio e Inter tem 1 milhão e 500 mil habitantes e o Rio Grande do Sul, 11.300.000.

A Belo Horizonte de Atlético Mineiro e Cruzeiro, tem 2 milhões e 700 mil habitantes e Minas Gerais, 20.900.000.

Quem souber explorar tamanhas massas de torcedores, mesmo em desvantagem com gigantes de mercados maiores, poderá se manter tecnicamente em condições de competitividade.

Quem se mantiver, a cada três anos, envolvido em guerras políticas pelo controle dos clubes associativos, estará sob o risco da ciclotimia, do sobe e desce.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/