O risco da espanholização
O vizinho Julio Gomes (AQUI) convida ao bom debate: o evidente predomínio de Flamengo e Palmeiras revela que o futebol brasileiro já padece do mesmo mal que o espanhol, onde Barcelona e Real Madrid dão as cartas há anos?
Sim, se olharmos a fotografia do momento, talvez não se olharmos para o futuro com a lembrança do passado, aliás como Gomes registra.
Porque nada ainda nos dá a certeza da autossustentabilidade de nossos clubes.
O modelo de gestão ultrapassado, que já atinge até mesmo o Barcelona por seu modo associativo, põe em risco a longevidade do predomínio.
Ou o futebol é separado do clube social e se implanta a fórmula da Sociedade Anônima do Futebol, ou, mostra a experiência, ninguém se mantém saudável por muito tempo.
O Brasil tem tudo para impedir a espanholização, porque com clubes suficientemente populares para se manterem saudáveis, uma realidade que o tamanho das torcidas pelo mundo afora não conhece.
Para dar um exemplo simplificador, mas válido: em 2000, para surpresa do mundo, o Deportivo La Coruña quebrou a hegemonia na Espanha e ganhou o campeonato nacional. Pela primeira vez. E última.
A cidade de Corunha tem 250 mil habitantes e a província de Galiza, que a abriga, tem cerca de 2 milhões e 700 mil habitantes.
A Porto Alegre de Grêmio e Inter tem 1 milhão e 500 mil habitantes e o Rio Grande do Sul, 11.300.000.
A Belo Horizonte de Atlético Mineiro e Cruzeiro, tem 2 milhões e 700 mil habitantes e Minas Gerais, 20.900.000.
Quem souber explorar tamanhas massas de torcedores, mesmo em desvantagem com gigantes de mercados maiores, poderá se manter tecnicamente em condições de competitividade.
Quem se mantiver, a cada três anos, envolvido em guerras políticas pelo controle dos clubes associativos, estará sob o risco da ciclotimia, do sobe e desce.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/