Frango do domingo
POR RONALDO GUIMARÃES*
Domingo, dia do descanso, o melhor dia. Dia de comer frango; naquela época, carne chique.
Corria atrás dele no quintal pro sangue ficar quente. Um talho no pescoço, a panela vermelha.
Caçula de sete irmãos, nunca coube-lhe o melhor pedaço.
Ficava de olho na coxa, a parte mais nobre. Não podia escolher.
Ficava com o "sobre", parte menos nobre, no sabor e na localização. Só ganhava dos pés.
Bastava-lhe o resto. O pai, o divisor; os irmãos, o dividendo; ele e a mãe, o resto.
A mãe ainda comia o resto que ficava nos pratos dos filhos. Sem nojo.
Depois do almoço, nos mesmos domingos santos, defendia as cores do esquadrão do time da região, envergando a camiseta número um. Goleiro.
E frangueiro.
*Ronaldo Guimarães é escritor, pedagogo e professor.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/