Dario, 75
Por ROBERTO VIEIRA
Poderia falar do beija flor.
Poderia falar das maravilhas.
Do jacaré.
Do gol sutil.
Poderia falar do delinquente juvenil.
E do jovem que foi desacreditado por quem era Gentil.
Gradim viu naquele jovem o que ninguém viu.
Um campo grande.
Inesperadamente, Yustrich também viu.
Saldanha não quis ver?
Pior para Saldanha.
Melhor para Zagalo.
Esporte estranho é o futebol.
Se o objetivo do futebol é o gol.
Aquele que faz o gol é craque… ou deveria ser.
E ninguém jamais fez gols como Dario.
Eita, como ia dizendo.
Não é sobre nenhum destes Darios que desejo falar.
É sobre outro Dario.
Agosto de 1975.
Meu pai me levou para doar roupa e comida para os desabrigados da terrível enchente de 1975 em Pernambuco.
Milhares de pobres sem teto.
Uma centena de mortos em Recife.
Ao chegarmos no local… surpresa.
A multidão de miseráveis formava uma roda.
Riam.
Gargalhavam.
Estariam loucos?
A fome enlouquece o reles mortal severino.
Que nada!
No centro da roda, crianças.
Descalças, esmolambadas, felizes.
Batiam bola com uma outra criança.
Uma criança com quase dois metros de altura.
Uma criança chamada Dario.
Naquele dia.
Dario foi muito maior que todos os Pelés para aquelas crianças.
Eu?
Coloquei para sempre Dario entre meus super heróis.
Com a vantagem de ser de carne, osso, lágrimas e chuteiras.

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