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Blog do Juca Kfouri

O VAR e as ciências aeronáuticas

Juca Kfouri

27/02/2021 17h31

POR THIAGO HÉRICK DE SÁ*

Você conseguiria imaginar um espaço com elevado nível de tensão, um grande número de fatores e pessoas envolvidas e a necessidade de tomadas rápidas de decisão, em geral com uma margem mínima de erro? Eu só consigo pensar em dois deles: a cabine do VAR e a cabine do avião.

Tanto em uma quanto na outra, 'piloto' e 'copiloto' precisam atuar em sintonia fina; precisam assegurar uma comunicação clara e efetiva com a torre de comando (ou o arbitro de campo, no caso), e precisam saber comunicar transparentemente decisões e próximos passos com sua audiência principal, sejam eles passageiros, jogadores ou telespectadores.

No caso do VAR, sobretudo o brasileiro, o que se vê é justamente o contrário: nos poucos áudios divulgados, árbitros e assistentes de VAR batem cabeça, os diálogos lembram mais os de uma feira livre, agravados pela balbúrdia do campo também vazada para dentro da cabine, e a comunicação externa, quando existe, é incompleta e nebulosa. Para utilizar um jargão da aviação, a 'consciência situacional' ali é precária, para dizer o mínimo.

208 segundos ou pouco mais de três minutos foi o tempo que o capitão Charley Burnett "Sully" Sullenberger e seu co-piloto tiveram para interagir com a torre de comando do aeroporto de LaGuardia e tomar todas as decisões acertadas que salvaram a vida de 150 passageiros e cinco tripulantes, naquilo que ficou conhecido com o milagre do rio Hudson.

Mesmo com muito menos fatores a considerar – e, convenhamos, muito menos pressão – quantas e quantas vezes vimos o VAR levar mais tempo que isso para tomar uma decisão errada, inclusive na Premier League, onde a tecnologia funciona melhor. Ainda bem que disso não dependem vidas humanas!

Longe de ser um expert no assunto, tenho comigo que o VAR pode e deve aprender muito com as ciências aeronáuticas…

*Thiago Hérick de Sá é bacharel em Educação Física pela USP e doutor em Saúde Pública também pela Universidade de São Paulo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/