A fantasia do pacote de transmissão do Carioquinha-2021
O comunicado da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro sobre a transmissão do Carioquinha deste ano é rico em detalhes ao anunciar o formato final de exploração dos direitos audiovisuais do torneio. Leia AQUI.
E, ufanista como costumam ser estes anúncios, proclama praticamente uma revolução na condução do processo e na alforria dos "grilhões do Grupo Globo".
Parabéns! Há tempos sonhamos com tamanha revolução.
Mas o discurso merece uma consideração mais serena.
Como ponto de partida vale lembrar que o contrato anterior, justamente com o Grupo Globo, vigoraria até o ano que vem.
Apenas o Flamengo teria o direito de não renovar no ano passado, como não renovou.
O contrato tinha um valor total que se acredita ao redor de R$ 120 milhões, dos quais se dizia que o Flamengo abiscoitaria algo entre 20 e 25 milhões de reais.
Na ânsia, então, de proclamar sua independência a partir da "Medida Provisória do Mandante" baixada pelo presidente da República, que mudava as regras de negociação dos direitos, o Flamengo incentivou a transmissão de um jogo contra o Volta Redonda, que era o mandante da partida.
A transmissão efetuada com o beneplácito da FFERJ, que era parte do contrato com o Grupo Globo, deu a este último a oportunidade de pedir o cancelamento por infração da cláusula que comprometia o Voltaço.
A discussão tramita na Justiça e só é citada para que não se perca de vista a referência, dispensada pela iniciativa rubro-negra, dos 120 milhões de reais.
Enquanto o processo segue seu rumo na corte, assinou-se o acordo com a empresa de Marcelo de Campos Pinto, ex-executivo do Grupo Globo, e citado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos no "Fifagate", para desenvolver a nova licitação.
O "Fifagate", lembremos, decretou a desgraça de João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo del Nero, J. Hawilla e seus cúmplices menos notórios.

Fontes asseguram que a empresa de Pinto foi uma indicação da cúpula do Flamengo.
Segundo essas mesmas fontes de mercado o Grupo Globo teria aceitado participar e teria feito uma proposta entre 40 e 50 milhões de reais por todos os direitos. Para efeito de reflexão vamos nos situar no meio, com 45 milhões de reais.
O anúncio da FFERJ declara que neste ano de 2021 os direitos de televisão aberta foram vendidos à Rede Record por R$ 11 milhões.
O resto da receita virá de uma operação de PPV montada por Pinto que prevê a distribuição pelas operadoras de TV paga e pelos canais de cada clube.
Pelos números divulgados o pacote total custaria cerca de 130 reais e repassaria aos clubes 53% desta receita, ou sejam, R$ 69,00 arredondados.
Numa conta de padaria, para atingir o valor médio da proposta da Globo, o novo PPV do Carioquinha, que até pouco tempo atrás Pinto declarava que deveria ser extinto, precisará vender quase 500.000 pacotes.
Pode ser, mas não custa lembrar que a base de pay-per-view do Brasileirão gira em torno de 1 milhão e meio de assinantes.
Ora, os envolvidos no novo formato têm o desafio de vender, ainda que em todo país e não apenas no Estado do Rio, cerca de 1/3 da base de assinantes do Brasileirão. Apesar de as torcidas do Vasco e do Botafogo estarem vivendo a depressão do rebaixamento.
Sublinhe-se: tal conta se refere apenas para empatar com a nova proposta não aceita do Grupo Globo, de 45 milhões de reais — porque os tais 120 milhões dispensados pela iniciativa do Flamengo, no ano passado, não voltam mais num cenário visível.
Os clubes, é verdade, podem alegar que têm ainda a possibilidade de obter receitas de publicidade.
Resta ver se, como levantado por outras fontes, a troca de comando da Petrobras, ou de outras verbas do governo federal, vão ajudar a fechar a conta.
No mínimo o que se pede é que a FFERJ, e os clubes, divulguem o quão bem-sucedida terá sido a iniciativa ao fim do Carioquinha.
Dado seu papel determinante para o futuro econômico do futebol brasileiro.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/