Macacada
POR FABRÍCIO CARPINEJAR
POR FABRÍCIO CARPINEJAR
Num grupo privado de WhatsApp de que participo, um escritor gremista chamou os colorados de macacada depois da vitória do Inter no Gre-Nal.
Ele tem discernimento, tem cultura, tem formação, nada disso o impediu de ser racista.
É na raiva que o preconceito emerge dos seus pântanos. É fácil ser educado e respeitoso nas conquistas, o difícil é ter classe e elegância na derrota.
Não foi o único: milhares de mensagens públicas nas redes sociais continuam associando o símio ao clube do povo, negando a história e o valor da raça negra e exercendo um discurso de superioridade e supremacia brancas.
O árbitro Luiz Flávio de Oliveira, que marcou uma penalidade para o Inter aos 50 minutos do segundo tempo, entrou no pacote da violência e acabou também caracterizado por muitos como macaco.
Não são casos isolados, mas manobra orquestrada em massa recorrendo a um discurso secular de dominação.
Não é uma piada, uma brincadeira, uma zoeira, mas crime racial.
Não estão falando de um tigre, de um leão, de uma hiena, mas de macacos. Escolhem o bicho propositalmente pela determinação da cor.
Não há desculpas ou alguma outra possibilidade de interpretação.
Os que insultam esquecem que o autor do gol tricolor foi Jean Pyerre, um negro? Ou a camiseta tricolor tem poderes de invisibilidade?
Trata-se da Ku Klux Klan disfarçada de torcida, com os capuzes do ódio e da segregação nas arquibancadas digitais.
A CBF precisa tomar providências urgentes.
Como não há torcida no estádio, tudo é estádio, qualquer lugar é estádio.
Se o clube não educa o seu torcedor, é somente penalizando o clube que o torcedor entenderá a gravidade da ofensa.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/