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Blog do Juca Kfouri

Hoje sou Santos FC

Juca Kfouri

30/01/2021 12h22

POR CHICO ALENCAR*

POR CHICO ALENCAR*

Alguém disse que futebol é "a mais importante das coisas sem importância".

Tenho essa paixão, e vejo com tristeza que os campinhos de pelada (ou "racha", ou "baba") da minha infância – onde jogávamos até com bola de meia – estão desaparecendo. A meninada anda mais pros games…

Hoje tem a final da Copa Libertadores da América (nome bonito!).

No Maracanã, mas sem o campeão de 2019, o Flamengo – como se esperava. Dois times paulistas vão disputar o título: Palmeiras e Santos.

Acho bacana ter essa decisão entre dois brasileiros e quero ver um bom jogo. Nessa temporada atípica, a pandemia alterou o calendário e o ritmo das partidas. Sem público – um imperativo! – também é inédito.

Para hoje, a Conmebol abriu, erradamente, cinco mil presenças para convidados, que ficarão espalhados pelo imenso estádio.

As exigências, ao menos, são fortes: teste "ouro" de Covid feito esta semana – aquele de R$ 340 -, máscaras, medição de temperatura e distanciamento por setores.

Filho de paulista, admirei o Palmeiras de Ademir da Guia, Djalma Dias, Djalminha – a "Academia do Futebol".

Amarildo e Pelé, no primeiro jogo, em Milão

Mas o Santos de Pelé deixou lembranças mais marcantes: pré-adolescente, estive no Maracanã nas duas finais contra o rubro-negro Milan (de Maldini, Trapattoni, Mazzola, Amarildo), em… 1963! Eu e mais 132 mil pessoas, em 14 de novembro (4 a 2 Santos, depois de estar perdendo por 2 a 0!); 120 mil pessoas e eu lá, de novo, dois dias depois: Santos 1 a 0, bicampeão mundial. Sem Pelé e Zito, machucados.

O Santos era o time de maior torcida no Rio, depois dos quatro grandes cariocas.

Jogava "por música" e aquele uniforme todo branco tinha uma mística "santificada". Depois percebi que a arte "bailarina" do futebol contrastava com a brutalidade da Ditadura, que tentava surfar na popularidade do "velho esporte bretão", como se dizia.

A boca devoradora do tempo é voraz: foi-se aquele time fantástico do Santos (que nostalgia!), foi-se a Ditadura (que bom!). Que Marinho, Soteldo e outros nos façam lembrar, em alguns momentos de hoje, do velho Santos. Ou que Marcos Rocha, Luiz Adriano e seus colegas tenham lampejos da antiga Academia… E, sobretudo, que governante algum nos infelicite com retrocessos autoritários (xô, neofascistas!).

*Chico Alencar é historiador, foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos e é vereador do PSOL pelo Rio de Janeiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/