Hoje sou Santos FC
POR CHICO ALENCAR*
POR CHICO ALENCAR*
Alguém disse que futebol é "a mais importante das coisas sem importância".
Tenho essa paixão, e vejo com tristeza que os campinhos de pelada (ou "racha", ou "baba") da minha infância – onde jogávamos até com bola de meia – estão desaparecendo. A meninada anda mais pros games…
Hoje tem a final da Copa Libertadores da América (nome bonito!).
No Maracanã, mas sem o campeão de 2019, o Flamengo – como se esperava. Dois times paulistas vão disputar o título: Palmeiras e Santos.
Acho bacana ter essa decisão entre dois brasileiros e quero ver um bom jogo. Nessa temporada atípica, a pandemia alterou o calendário e o ritmo das partidas. Sem público – um imperativo! – também é inédito.
Para hoje, a Conmebol abriu, erradamente, cinco mil presenças para convidados, que ficarão espalhados pelo imenso estádio.
As exigências, ao menos, são fortes: teste "ouro" de Covid feito esta semana – aquele de R$ 340 -, máscaras, medição de temperatura e distanciamento por setores.
Filho de paulista, admirei o Palmeiras de Ademir da Guia, Djalma Dias, Djalminha – a "Academia do Futebol".
Mas o Santos de Pelé deixou lembranças mais marcantes: pré-adolescente, estive no Maracanã nas duas finais contra o rubro-negro Milan (de Maldini, Trapattoni, Mazzola, Amarildo), em… 1963! Eu e mais 132 mil pessoas, em 14 de novembro (4 a 2 Santos, depois de estar perdendo por 2 a 0!); 120 mil pessoas e eu lá, de novo, dois dias depois: Santos 1 a 0, bicampeão mundial. Sem Pelé e Zito, machucados.
O Santos era o time de maior torcida no Rio, depois dos quatro grandes cariocas.
Jogava "por música" e aquele uniforme todo branco tinha uma mística "santificada". Depois percebi que a arte "bailarina" do futebol contrastava com a brutalidade da Ditadura, que tentava surfar na popularidade do "velho esporte bretão", como se dizia.
A boca devoradora do tempo é voraz: foi-se aquele time fantástico do Santos (que nostalgia!), foi-se a Ditadura (que bom!). Que Marinho, Soteldo e outros nos façam lembrar, em alguns momentos de hoje, do velho Santos. Ou que Marcos Rocha, Luiz Adriano e seus colegas tenham lampejos da antiga Academia… E, sobretudo, que governante algum nos infelicite com retrocessos autoritários (xô, neofascistas!).
*Chico Alencar é historiador, foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos e é vereador do PSOL pelo Rio de Janeiro.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/