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Blog do Juca Kfouri

Abel Braga e Inter: uma história de amor

Juca Kfouri

21/01/2021 12h44

POR FABRÍCIO CARPINEJAR

Abel Braga realmente não é mais o mesmo, é muito melhor.

O que esse homem aos 68 anos está fazendo no comando colorado modificou a nossa noção de milagre.

Não tem como explicar, a não ser recorrendo ao amor. A não ser justificando que é amor. De que é uma história de amor que ele vive com o Beira-Rio, que já gerou uma Libertadores e um Mundial e pode trazer um título no Brasileiro após 41 anos.

Não é apenas um técnico, mas um pai de família. Um líder. Um torcedor. Um resiliente.

Ele tem a insana capacidade de absorver as críticas e usar a seu favor.

Não diria que os jogadores do Inter recuperaram a confiança. É algo mais do que confiança. É fé em campo.

"Os humilhadas serão exaltados", eis a sua crença.

Aqueles que o rotularam de "ultrapassado", devido às suas passagens discretas por Flamengo, Cruzeiro e Vasco da Gama, agora têm que elogiar um estrategista moderno, que consegue superar o adversário ou contra-atacando ou com a marcação alta, que aplica a maior goleada de todos os tempos que o São Paulo já amargou no Morumbi.

Antes, quando já empilhava vitórias, os críticos alegavam que ele ganhava, mas não convencia. Ou que ganhava fazendo o arroz com feijão. Acho que já dá para ver no seu prato o bife, a massa, as fritas.

São sete vitórias consecutivas. Vinte e um pontos fora e dentro de casa, contra times do alto e do baixo da tabela. Pode empatar com o recorde de sequência de triunfos nos pontos corridos (8), que pertence ao Cruzeiro de 2003 e ao Flamengo de 2019. Tem o melhor ataque, a terceira melhor defesa, o maior saldo de gols a favor.

Não é um líder por acaso, mas por méritos pessoais, resultados de suas escolhas individuais.

Seus reforços surgiram da base. Não pediu nenhuma contratação. Ajeitou o vestiário. Uniu a direção dividida por uma eleição recente.

Tampouco se mostrou vítima das lesões e das baixas no departamento médico. Saiu Moledo, brilhou Lucas Ribeiro. Saiu Thiago Galhardo, brilhou Yuri.

Suas proezas não se limitam a revelar os jovens como o goleador Yuri, Peglow, Praxedes e Caio Vidal, mas em recuperar os veteranos laterais Moisés e Rodinei, por exemplo, que ninguém mais dava uma pataca por eles.

Repare que todos atacam e defendem. Repare que todos estão em condições de fazer gols, como Dourado e Cuesta. Repare nas jogadas ensaiadas.

Pela primeira vez, depois de 11 clássicos, é Gre-Nal e não venho sentindo nenhum medo. Obrigado, Abel.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/