Abel Braga e Inter: uma história de amor
POR FABRÍCIO CARPINEJAR

Abel Braga realmente não é mais o mesmo, é muito melhor.
O que esse homem aos 68 anos está fazendo no comando colorado modificou a nossa noção de milagre.
Não tem como explicar, a não ser recorrendo ao amor. A não ser justificando que é amor. De que é uma história de amor que ele vive com o Beira-Rio, que já gerou uma Libertadores e um Mundial e pode trazer um título no Brasileiro após 41 anos.
Não é apenas um técnico, mas um pai de família. Um líder. Um torcedor. Um resiliente.
Ele tem a insana capacidade de absorver as críticas e usar a seu favor.
Não diria que os jogadores do Inter recuperaram a confiança. É algo mais do que confiança. É fé em campo.
"Os humilhadas serão exaltados", eis a sua crença.
Aqueles que o rotularam de "ultrapassado", devido às suas passagens discretas por Flamengo, Cruzeiro e Vasco da Gama, agora têm que elogiar um estrategista moderno, que consegue superar o adversário ou contra-atacando ou com a marcação alta, que aplica a maior goleada de todos os tempos que o São Paulo já amargou no Morumbi.
Antes, quando já empilhava vitórias, os críticos alegavam que ele ganhava, mas não convencia. Ou que ganhava fazendo o arroz com feijão. Acho que já dá para ver no seu prato o bife, a massa, as fritas.
São sete vitórias consecutivas. Vinte e um pontos fora e dentro de casa, contra times do alto e do baixo da tabela. Pode empatar com o recorde de sequência de triunfos nos pontos corridos (8), que pertence ao Cruzeiro de 2003 e ao Flamengo de 2019. Tem o melhor ataque, a terceira melhor defesa, o maior saldo de gols a favor.
Não é um líder por acaso, mas por méritos pessoais, resultados de suas escolhas individuais.
Seus reforços surgiram da base. Não pediu nenhuma contratação. Ajeitou o vestiário. Uniu a direção dividida por uma eleição recente.
Tampouco se mostrou vítima das lesões e das baixas no departamento médico. Saiu Moledo, brilhou Lucas Ribeiro. Saiu Thiago Galhardo, brilhou Yuri.
Suas proezas não se limitam a revelar os jovens como o goleador Yuri, Peglow, Praxedes e Caio Vidal, mas em recuperar os veteranos laterais Moisés e Rodinei, por exemplo, que ninguém mais dava uma pataca por eles.
Repare que todos atacam e defendem. Repare que todos estão em condições de fazer gols, como Dourado e Cuesta. Repare nas jogadas ensaiadas.
Pela primeira vez, depois de 11 clássicos, é Gre-Nal e não venho sentindo nenhum medo. Obrigado, Abel.
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