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Blog do Juca Kfouri

São Paulo regride aceleradamente

Juca Kfouri

30/11/2020 14h31

A cidade de São Paulo passou a ser pensada como uma cidade-empresa, que precisa dar lucro, cujos bairros são vistos como unidades de negócio, onde vivem consumidores, não cidadãos.

À melhoria de cada região corresponde o êxodo de seus moradores menos favorecidos para a periferia da cidade.

E onde houver aparelhos públicos encravados em bairros chiques, como o estádio do Pacaembu e o ginásio do Ibirapuera, a sanha privativista prevalece.

Assim foi com o Pacaembu, assim será com o Ibirapuera, que acaba de ver negada, por 16 a 8, o tombamento de seu parque esportivo pelo Condephaat, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico.

Decisão anunciada hoje por um colegiado, tomado por indicados do governador e com redução dos assentos da universidade, apesar do irretocável parecer a favor do tombamento do Arquiteto Urbanista, Mestre em História e Doutor em História da Arquitetura, e professor de Projeto e História da Arquitetura da Universidade de São Paulo / Campus São Carlos, Renato Anelli.

Cada vez mais os conselhos deixam de cumprir o papel de defender o interesse da comunidade para servir aos governos de plantão.

Que se danem os motivos que levaram as construções dos equipamentos esportivos. Os interesses negociais prevalecem.

Esporte é saúde, esporte é cultura, esporte é lazer? E daí?

Construções idealizadas por arquitetos mundialmente reconhecidos, e partes marcantes do cenário de São Paulo, desaparecem para dar lugar a mais e mais empreendimentos comerciais.

Na cabeça dessa gente só cabe pensar em dinheiro e a ideia de fazer um shopping center e um hotel na área do ginásio prevaleceu.

Ontem às urnas falaram em São Paulo e o prefeito eleito declarou que é possível fazer política falando a verdade.

Hoje a cidade saiu do verde e voltou ao amarelo na prevenção ao recrudescimento da pandemia.

Que tanto o governador quanto o prefeito negavam até anteontem.

Se o nome disso não é estelionato eleitoral será preciso inventar outra denominação para tamanho embuste.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/