Honra no fio do bigode
Por FABRÍCIO CARPINEJAR
Três técnicos recusaram o convite. Ninguém queria a bomba-relógio. Ninguém desejava o posto de comando de um dos maiores clubes do país perto do descenso da Terceira Divisão. Ninguém pretendia manchar a sua reputação tendo que atingir 80% de aproveitamento dali por diante. O medo é sempre um negócio arriscado.
Mas Felipão assumiu a empreitada de salvar o Cruzeiro.
Que diga qualquer coisa a respeito desse gaúcho de Passo Fundo, menos que não tem coragem.
Aos 71 anos, quando já poderia estar aposentado, quando já poderia colher os louros de uma carreira abarrotada de troféus como Mundial com a seleção e duas Libertadores e dois Brasileiros (Palmeiras e Grêmio), quando poderia viver de havaianas e calção lendo os desmandos da profissão pelo jornal, ele abraça a epopeia de endireitar o penúltimo colocado da Série B e trazê-lo de volta para a primeira divisão.
Não pense que esse descendente de italianos não sabe o que está fazendo. Botará a toca da Raposa em ordem mesmo que seja à base de desaforos em Vêneto. Ele conseguiu levar o Criciúma ao título da Copa do Brasil, maior glória da história catarinense.
Não existe mais homens como Felipão. Da velha guarda, de acreditar no impossível, de aceitar o improvável, de colocar a honra no fio do bigode, de caminhar inferno adentro em busca da redenção.
Se o Cruzeiro sairá dessa, não tenho mais dúvidas. O que faltava ao grupo celeste era confiança. Felipão é o carisma da garra.
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