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Blog do Juca Kfouri

Mengo cai de cinco impotente a 2.850 metros

Juca Kfouri

17/09/2020 22h49

O Flamengo tentou levar o primeiro tempo em Quito, 2.850 desumanos metros de altitude, em banho-maria.

O bom Independiente Del Valle só queria botar fogo no jogo.

E conseguiu.

Dominou os 45 minutos como quis, finalizou sempre entre os três paus e fez César trabalhar.

De tanto buscar, antes que o intervalo chegasse, abriu o placar em belo gol de Caicedo, autor de corta-luz esperto para receber na frente e fazer 1 a 0, aos 40 minutos, que era até pouco tamanha a sua superioridade.

Não confunda este Caicedo, Moisés, com aquele, também equatoriano, Luis, que jogou no Cruzeiro.

Moisés Caicedo tem 18 anos, é o chamado volante moderno e joga muito.

Caicedo é sobrenome tão comum no Equador como Silva no Brasil.

Domènec Torrent via seu time dominado e tinha um problemaço para o segundo tempo quando, normalmente, o Flamengo sentiria ainda mais os efeitos da altitude.

Voltou com Bruno Henrique no lugar de Diego, fez um ataque bem articulado logo no primeiro minuto, mas, em seguida, assistiu Preciado dar belo chute de curva de fora da área para ampliar: 2 a 0, aos 49'.

O zagueiro arrematou como se fosse um meia de qualidade.

Em contra-ataque, Gabriel Torres, aos 59', fez 3 a 0 e desenhou goleada humilhante sobre o campeão da Libertadores, 12 contra 11, porque os 2.850 metros jogam, ainda mais se o adversário é bom como é o Del Valle.

Nada que complicasse a vida rubro-negra com vista às oitavas de final, mas, de qualquer jeito, chato, muito chato.

Os equatorianos devolviam o placar da final da Recopa, em fevereiro.

Everton Ribeiro e Gerson saíram para Michael e Thiago Maia entrarem, aos 65'.

Era hora de "arrecuar os arfes para evitar a catástre", como dizia Neném Prancha. Porque, aos 67', o travessão evitou o quarto gol, de Gabriel Torres.

Miguel Ángel Ramirez, o técnico espanhol, dava trabalho ao colega catalão Torrent.

Mas diminuir o efeito da altitude é ir contra a ciência do Esporte, mais ou menos como chamar a Covid-19 de gripezinha.

O Palmeiras ontem, 800 metros a mais, teve a sorte e a competência de enfrentar um adversário que não jogava há seis meses.

Renê e Pedro em campo, Filipe Luís e Arrascaeta fora, aos 75'.

Impotente, o Flamengo ainda levou o 4 a 0 de Sánchez, ao perder mais uma dividida no meio de campo, aos 81'.

Restava rezar para o jogo terminar.

Mas, nos acréscimos, 5 a 0, de Beder Caicedo, não confundir com Moisés, nem com Luis…

E Gustavo Henrique foi expulso, burramente.

O Flamengo levou daqueles coças gostosas de lembrar na festa do título.

Se, é claro, o título vier…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/