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Blog do Juca Kfouri

Covidão-20 tem mais técnicos estrangeiros do que negros

Juca Kfouri

03/09/2020 23h12

POR IGOR CARVALHO

Roger Machado foi demitido do comando técnico do Bahia na última quarta-feira (2), após o tricolor baiano ser derrotado pelo Flamengo no estádio do Pituaçu.

Para além da derrota, o afastamento do treinador significa que, a partir de agora, apenas dois técnicos, entre os 20 da Série A do futebol brasileiro, são negros.

Entre os outros 18 técnicos brancos, três estrangeiros: os argentinos Jorge Sampoli e Eduardo Coudet, além do espanhol Domenéc Torrent, que dirigem o Atlético Mineiro, o Internacional e o Flamengo, respectivamente.

Jair Ventura, à frente do Sport do Recife, e Vanderlei Luxemburgo, do Palmeiras, se tornaram os dois únicos negros, ou pardos, que integram o Olimpo do futebol brasileiro, a Série A. Ambos, ex-jogadores, assim como Roger Machado.

No Brasil, qualquer lista dos maiores jogadores de futebol, elaborada por jornalistas, pesquisadores ou torcedores, será povoada por negros, majoritariamente: Pelé, Marta, Mané Garrincha, Romário, Rivaldo, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Neymar, entre outros.

Porém, quando os olhos se voltam para o comando do futebol, o racismo estrutural fica evidente.

Entre os 40 clubes da Série A e B, apenas um é presidido por negro, a Ponte Preta. Desde novembro de 2019, Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, é o dirigente máximo do clube campineiro. Mas não foi eleito, herdou o cargo de José Armando Abdalla, que se afastou por motivos de saúde.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o ex-goleiro Aranha falou sobre a falta de diversidade nos espaços de comando no futebol. "O negro sempre ocupou um lugar de mão de obra, é a força ou habilidade, a parte intelectual não é para o negro. Por isso, leis que impediam o negro de estudar. O mais interessante é que fora do Brasil, muitas pessoas que são consideradas brancas aqui, lá não são consideradas brancas. Aí, o que acontece, os técnicos, mesmo os brancos, são considerados intelectualmente inferiores."

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/