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Blog do Juca Kfouri

Nota dos movimentos contra a violência policial

Juca Kfouri

11/08/2020 15h54

No dia 09, Rogério Ferreira da Silva Jr., 19, foi baleado e morto pela PM de São Paulo, por volta das 18h, em uma rua da região do Parque Bristol, zona sul da cidade. O jovem, trabalhava numa empresa de logística e estava indo ao encontro de seus amigos para comemorar seu aniversário quando tudo aconteceu.

Um vídeo de um circuito de segurança mostra o exato momento em que Rogério é abordado por dois agentes e atingido sem chance de reação, cai. Na chegada ao local, a mãe do jovem foi impedida por policiais de se aproximar do filho. A família, mesmo diante da dura perda, passaria ainda 14 horas em uma delegacia.

Causa profunda indignação que mais uma família paulista se some a centenas de outras, destroçadas pela violência policial. Em espaços de tempo cada vez mais curtos, o Estado empilha corpos de seus cidadãos.

Sem instituições públicas capazes de conter a barbárie, o recado que a corporação recebe (e se renova semana após semana) é de que a brutalidade é permitida, principalmente contra jovens negros, nas periferias.

Nós, amigos e familiares de vítimas do Estado, movimentos, organizações negras e de direitos humanos estamos desde junho solicitando uma reunião com o governador João Doria para discutir de forma propositiva sobre a letalidade e violência policial em SP.

Há muitos e muitos anos, várias organizações e movimentos que compõem essa iniciativa têm feito reivindicações explícitas para conter a violência das polícias, a mesma que agora interrompe os sonhos de Rogério em seu aniversário de 19 anos.

O número de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo cresceu 21% no primeiro semestre e o governador de São Paulo, recentemente teve nas mãos a oportunidade de se comprometer com uma política de segurança menos contaminada pelo racismo e pela truculência que dele decorre. Ao invés de receber organizações de excelente reputação e membros da sociedade civil de grande relevância, tem preferido não receber o grupo, deixando de priorizar um tema tão urgente e grave como é o da violência de Estado. O resultado recente, foi a execução de Rogério Ferreira da Silva Jr, aos 19 anos.

Provavelmente, ainda nesta semana, novas famílias irão chorar. Não bastasse a pandemia, São Paulo convive com a chacina de seus jovens negros.

Estamos à disposição para um encontro com o governador e esperamos que seja construtivo. Esta é uma pauta civilizatória e vai além das postagens e ações de marketing.

Atenciosamente,

São Paulo, 11 de agosto de 2020

342Artes

Associação Brasileira de Imprensa

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Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Grupo Prerrogativas

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Movimento Independente Mães de Maio Núcleo de Estudos da Violência – NEV/USP Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio

Uneafro

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/