Não são tempos de futebol
POR LINO CASTELLANI FILHO
Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam – Isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável.
(Bertolt Brecht)
Que já não somos mais a "Pátria das Chuteiras", não há tantos mais a questionar.
Afinal, o futebol "padrão FIFA" acabou com o "Geraldino", embranqueceu as arquibancadas de um país de maioria negra e fez dele, produto a ser consumido no pay-per-view que não cabe no bolso de 2/3 dos brasileiros.
Houve tempo em que futebol era festa.
Quem é torcedor que levante o dedo,
Eu sou, eu sou!
Hoje é dia de futebol,
Eu vou eu vou!
(cantiga popular)
Ouvíamos cantar de norte a sul, de leste a oeste das terras tupiniquins, pobres, mas orgulhosas de suas histórias.
Hoje, não mais.
100.000 mortos nos fazem abaixar a cabeça a nos perguntar por que permitimos que isso acontecesse…
Hoje futebol é cerimônia fúnebre de um povo.
Os minutos de silêncio que antecedem o início das partidas nos envergonham diante dos males que afligem nossa combalida democracia.
Não podemos e não seremos cúmplices desse morticínio.
Não permitiremos a naturalização do ódio obscurantista dos que não se importam – E daí? Disse o homúnculo – com as mortes.
Não…
Não são tempos de futebol!
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/