Topo

Blog do Juca Kfouri

Os 70 de 50

Juca Kfouri

16/07/2020 12h00

Por ROBERTO VIEIRA

Mês passado comemoramos os 50 anos de 70.

Hoje choramos os 70 anos de 50.

50 e 70.

Palíndromos.

Vinte anos luz do nosso futebol.

A temperatura no Rio era amena.

Mínima de 14 e máxima de 25 graus.

16 de julho era um domingo banal no Distrito Federal.

Exceto pelas 200 mil pessoas rumando ao Maracanã.

Estatisticamente menos que os 80 mil uruguaios na final de 30.

Porém, ainda a maior multidão presente num estádio de futebol.

Como curiosidade, vinte fatos singelos daquele fatídico dia.

Vinte fatos… um para cada ano.

1. Pelo telefone 23-0024 poderíamos alugar duas cadeiras cativas no Maracanã para a final. Porque alguém resolveu que daria azar ir ao estádio e botou pra vender.

Não sabemos até hoje o destino de quem comprou as cadeiras na sombra.

2. Naqueles dias pré smartphone e Bluetooth, em cinco horas dava pra tirar e receber fotos para identidade. No dia 17 se bateram milhares de chapas 3×4 no Rio tantas foram as carteiras perdidas.

3. Pagava-se Cr$ 100,00 para um ambulante no estádio, e o ambulante ainda via o jogo de graça.

Para se ter uma idéia com 4500 cruzeiros se comprava uma radiola.

4. Maneca estava machucado e Friaça jogaria.

5. O presidente ds CBD chorou no papo com os jogadores. O nome dele era… Marco Polo.

6. A renda era calculada em 6 milhões de cruzeiros ou mais de mil radiolas.

7. Dercy Gonçalves apresentava no Teatro Recreio o espetáculo CATUCA POR BAIXO.

8. Obdulio Varela e Tejera foram manchete. Sorridentes.

9. Brasil 7×1 Suécia e Brasil 6×1 na Espanha estavam no Cinema Trianon, às dez da manhã. Depois sumiram do mapa. O Mundial do Brasil se tornou um vazio cinematográfico.

10. As 120 mil arquibancadas estavam esgotadas na véspera.

11. As 14 mil cadeiras numeradas também.

12. Com 200 cruzeiros se comprava um terno

13. O alfaiate Adonis oferece nos jornais um traje completo ao goleiro Barbosa… nunca cumpriu a promessa.

14. A Espanha tinha certeza que seria vice campeã mundial

15. Ademir e Chico receberam lotes de terreno pela artilharia antes do jogo

16. Uma marchinha chamada EU SOU BRASILEIRO de Lamartine Babo estava preparada para ser o hino de guerra… felizmente se perdeu na história.

17. O patrono do Bangu ofereceu medalhas de ouro aos futuros campeões.

18. O portão da concentração em São Januário virou casa da Mãe Joana.

19. O técnico uruguaio Juan Lopez se recusou a divulgar a escalação na véspera do jogo

20. No dia 15 de julho, em silêncio, pela manhã, o time uruguaio foi sozinho ao gramado do Maracanã reconhecer o Maior do Mundo.

O cronista Vargas Neto resumiu o pensamento brasileiro:

'Não admito a hipótese que não inclua o mais amplo e belo triunfo'.

Dessa maneira, meus amigos.

O Brasil foi vice.

O Uruguai campeão.

A Suécia foi terceiro.

A Espanha amargou um quarto lugar.

E em Pernambuco, acredite quem quiser.

Um apostador acertou em cheio o placar do Maracanazzo.

Enquanto quatro outros também cravavam a vitória celeste num concurso de um jornal.

O Brasil que saiu daquele Maracanã não era o mesmo Brasil de antes.

Ali perdemos a inocência.

Ali entramos na idade adulta.

Ali comecaram nossos cabelos brancos…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/