O Pagador de Promessas
Por ROBERTO VIEIRA
Leonardo Vilar se foi.
Leonardo e sua cruz em Cannes.
O Brasil de 1962 era um assim como o filme.
Um pagador de promessas.
Uma nação em ebulição.
Artistas, esportistas, janguistas, militaristas e comunistas em entropia.
A Palma de Ouro era consequência.
Mas o país de Anselmo Duarte tinha os Dias Gomes contados.
A riqueza da diversidade se tornou a aspereza da radicalidade.
Cada um queria ter a razão.
E a nação não tinha lugar pra todos que tinham razão.
O país carregando sua cruz foi traído por todos.
Como o pagador de Menezes por Glória.
O país do futuro.
A terra de todos os santos.
O Brasil ficou só na promessa.
O talento virou crime.
A liberdade virou palavrão.
Os extremistas ganharam a batalha.
E passamos a viver como equilibristas.
Zés do Burro.
Nicolaus.
O Brasil do milagre nunca chegou vivo ao altar.
O Brasil nunca mais venceu o Brasil bossa nova.
Hoje, Leonardo Vilar se foi.
Retrato em branco e preto de cada um de nós…

Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/