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Blog do Juca Kfouri

Não está morto quem peleia

Juca Kfouri

23/07/2020 20h00

POR FABRÍCIO CARPINEJAR

Minha irmã me conta que sua colega perdeu o filho de 20 anos. Carla e Tita engravidaram ao mesmo tempo. Giovana (minha sobrinha) e Eduardo tornaram-se gêmeos da amizade entre as duas.

Eduardo, estudante de Psicologia, colorado fervoroso, tatuado com símbolo do seu clube de coração no braço, não resistiu à fibrose cística. Ficou na fila de espera de um transplante.

Não há sentido em uma mãe e um pai enterrarem o seu filho. Ainda mais com a expectativa do surgimento de um milagre de doação até o último instante. São duas injustiças juntas em tamanho descompasso da vida, mesmo que toda palavra tenha sido experimentada com urgente sinceridade.

Além das dores dos mistérios, nenhum laço é feito sem nó. Ele cultivava como lema uma expressão gaúcha: "não tá morto quem peleia". Verso do grupo tradicionalista Os Farrapos, traduz o ímpeto de jamais desistir diante das adversidades, traz a garra como principal virtude, demarca a fé nas situações amargas, expressa que nem tudo está perdido.

Ele parecia querer dizer que jamais o fim apagaria a sua passagem por aqui, que traria lições depois da despedida.

Poderia até morrer, porém a sua paixão nunca.

No Gre-Nal da noite de quarta (22/7), os jogadores da dupla dedicaram um minuto de silêncio em respeito ao luto.

Mas o que mexeu comigo foram as horas de solidariedade dos seus amigos gremistas no velório. Eles vestiram a camiseta do Inter para homenagear o adolescente. Não houve rivalidade, só amor. A morte não tem time.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/