Não está morto quem peleia
POR FABRÍCIO CARPINEJAR
Minha irmã me conta que sua colega perdeu o filho de 20 anos. Carla e Tita engravidaram ao mesmo tempo. Giovana (minha sobrinha) e Eduardo tornaram-se gêmeos da amizade entre as duas.
Eduardo, estudante de Psicologia, colorado fervoroso, tatuado com símbolo do seu clube de coração no braço, não resistiu à fibrose cística. Ficou na fila de espera de um transplante.

Não há sentido em uma mãe e um pai enterrarem o seu filho. Ainda mais com a expectativa do surgimento de um milagre de doação até o último instante. São duas injustiças juntas em tamanho descompasso da vida, mesmo que toda palavra tenha sido experimentada com urgente sinceridade.
Além das dores dos mistérios, nenhum laço é feito sem nó. Ele cultivava como lema uma expressão gaúcha: "não tá morto quem peleia". Verso do grupo tradicionalista Os Farrapos, traduz o ímpeto de jamais desistir diante das adversidades, traz a garra como principal virtude, demarca a fé nas situações amargas, expressa que nem tudo está perdido.
Ele parecia querer dizer que jamais o fim apagaria a sua passagem por aqui, que traria lições depois da despedida.
Poderia até morrer, porém a sua paixão nunca.
No Gre-Nal da noite de quarta (22/7), os jogadores da dupla dedicaram um minuto de silêncio em respeito ao luto.
Mas o que mexeu comigo foram as horas de solidariedade dos seus amigos gremistas no velório. Eles vestiram a camiseta do Inter para homenagear o adolescente. Não houve rivalidade, só amor. A morte não tem time.
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