Futebol x Ditadura
Por ROBERTO VIEIRA
Duas seleções raramente são lembradas.
Duas baitas equipes de futebol.
Duas vice campeãs mundiais.
Duas equipes que lutaram solitárias contra dois ditadores durante 120 minutos.
A primeira foi a Tchecoslováquia de Planicka.
Diante de si o fascismo e Mussolini.

Mussolini que tomou chá com Ivan Eklind antes do jogo.
Eklind que apitou a partida.
Pois a Tchecoslováquia marcou aos 25' do segundo tempo.
Puc.
E o Duce só voltou a respirar dez minutos depois.
O argentino Orsi empatou.
40 graus de temperatura em Roma.
Schiavio vira para a Itália na prorrogação.
O Duce ganha dez anos de sobrevida.
O mundo ganha mais dez anos de terror.

Quarenta e quatro anos depois é a vez da Holanda.
Sem Cruyff.
Mas com raça nos olhos.
Empatando em 1×1 com os soldados de Videla.
Batendo mais que os argentinos em campo.
Resistindo no estádio que tinha como vizinho um centro de torturas.
Uma Holanda infinita como a Tchecoslováquia.
Holanda que chegou perto das Malvinas naquela quase noite fria.
Uruguai de 50?
Deixa disso.
O Maracanã era campo neutro.
Campo de guerra eram Roma e Buenos Aires.
Finais onde o cheiro de sangue era muito mais que uma metáfora…
Era real.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/