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Blog do Juca Kfouri

Miguel: "Eu só queria a minha mãe"

Admin

06/06/2020 19h22

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POR JOANA ROZOWYKWIAT*

Esse horror que é a morte do menino Miguel é a história com mais símbolos de que eu tenho lembrança:

A empregada que trabalha durante a pandemia;

A empregada que não tem com quem deixar o filho;
A empregada é negra;

A patroa é loura;

A patroa é casada com um prefeito;
O prefeito tem uma residência em outro município, que não é o que governa;

A patroa tem um cachorro, mas não leva ele pra passear, delega;

A patroa está fazendo as unhas em plena pandemia, expondo outra trabalhadora;

A empregada pegou Covid com o patrão;

A empregada consta como funcionária da Prefeitura de Tamandaré;

Tudo isso acontece nas torres gêmeas, ícone do processo e verticalização desenfreada, especulação imobiliária e segregação da cidade do Recife;

Tudo isso acontece em meio aos protestos Vidas Negras Importam;

Tudo isso acontece no dia em que se completaram cinco anos da sanção da lei que regulamentou o trabalho doméstico no Brasil;

É muita coisa, muito símbolo;

A patroa despacha sem remorso o menino no elevador;

O menino se chama Miguel, nome de anjo;

O sobrenome da patroa é Corte Real.

*Joana Rozowykwiat é jornalista.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/