Estertores da Lava Jato
O fim de semana foi polvilhado de informações acerca do imbróglio PGR x Lava Jato. Vamos em migalhas:
– Integrantes da força-tarefa da operação, no âmbito da PGR, pediram demissão por discordar da chefe em Brasília, a subprocuradora Lindora Araújo.
– O motivo real veio na sequência, quando membros da força-tarefa em Curitiba, segundo informes, acionaram a corregedoria afirmando que Lindora teria surgido na capital paranaense buscando informações de modo irregular. Ou seja, levantaram suspeitas contra a colega, com a mesma leviandade que fizeram com inúmeras pessoas. São craques nisso.
– Augusto Aras minimizou a saída da equipe em Brasília. Lembrou também – isso é importante – que a Lava Jato não é instituição.
– Este informativo, há anos, vem chamando atenção para o fato de que essa história saiu do controle. Força-tarefa, como o próprio nome diz, é algo transitório, é uma força reunida para um fim. Dizer que existe uma força-tarefa para combater a corrupção do país é uma estultice, porque esse é objetivo de todas as instituições.
– Mas por que se deixou criar esse monstro? Por vários motivos, e ainda está para ser escrita essa história. Um deles é a conveniência. Os meninos de Curitiba trabalhavam bem, de modo que o então PGR, pusilânime, se valia do esforço alheio. Vá, jornalista curioso, conferir quantas diárias Dallagnol ganhou para ir a Brasília se reunir com os subprocuradores! Vá conferir quantas vezes ele foi despachar com ministros do STJ e do STF, quando a hierarquia diz que isso seria função dos subprocuradores!
– Com esse acordo tácito de "vocês trabalham e nós todos ficamos com a fama", deixou-se nascer o monstro. Foi assim que surgiram as primeiras "notas públicas" assinadas pela "força-tarefa da Lava Jato", como se isso fosse um ser com pernas próprias.
– Foi assim também que se dissolveu os caracteres dos integrantes, que passaram a se deliciar com a fama e com o ouro que veio na sequência, a partir das centenas de palestras bem remuneradas. Vá, jornalista curioso, apurar quanto os meninos abocanharam com isso. Ah, o vil metal… quando um procurador da República da província sonharia em dar palestras pelo país afora, como se fosse uma celebridade, cobrando dezenas de milhares de reais?
– Quando a PGR se deu conta do que havia sido criado, tentou conter no ponto que lhe cabia: nos recursos financeiros. E o que fazem os meninos? Armam um esquema (como gostosamente dizem nas peças) que é um dos maiores escândalos da história da República, e que ainda vai colocar seus signatários em maus lençóis: trama-se, à sorrelfa, fora do país, uma bilionária instituição a ser gerida por eles próprios, com o dinheiro do crime. Uma verdadeira pândega com o butim. Ou não era isso que se pretendia fazer com a malograda Fundação Lava Jato?
– No caso mais recente, se algum procurador da República tem algo contra a subprocuradora, que apresente as provas. Se não as têm, querer tisnar uma colega com ilações é vergonhoso, imoral e antiético.
Migalhas
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