Elza, 90
Por ROBERTO VIEIRA
Nunca houve uma mulher como Elza.
Porque nunca houve uma mulher mais odiada que Elza no Brasil.
O país da hipocrisia, aliás, caprichou com Elza.
Elza era mulher da vida.
Elza era destruidora de lares.
Elza roubava grana do Mané.
Elza era… negra.
Elza que apanhava na rua e em casa.
De Mané.
O Brasil é um país curioso.
Todos são experts.
Todos são santos.
Todos estão certos.
Todos são ilibados, inodoros e incolores.
Menos Elza.
A menina que tinha a cara da fome.
A mulher que não tinha medo de homem.
Elza sabia fazer duas coisas imperdoáveis num país de desafinados e falso moralistas.
Elza sabia amar.
Elza sabia cantar.
E as mulheres que xingavam Elza.
Elas xingavam porque não eram Elza.
E os homens que xingavam Elza.
Xingavam porque Elza não dava pra eles.
Uma das três maiores cantoras de nossa história.
Uma deusa no palco.
Elza foi maior que Garrincha.
Porque mais que a alegria do povo.
Elza é a tristeza deste mesmo povo.
Tristeza fazendo-se de conta em alegria.
Tristeza não tem fim.
Felicidade, sim…

Sobre o Autor
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