Um memorial para o 7 a 1
POR VINÍCIUS BARROS*
Notei que há uma pequena agitação nas redes a respeito de reprisar ou não fatídico jogo do 7×1.
A questão é: "por que reprisar em rede nacional uma derrota humilhante? não seria pesado? já andamos sofridos demais!".
O povo brasileiro ama as suas vitórias, é apaixonado por elas.
Recentemente jogos épicos foram reprisados na TV, como as finais de 70, 94 e 2002. Sem dúvida, conquistas maravilhosas.
Até hoje me lembro de 94, eu com 9 anos, estava em Santos.
Ainda carrego a imagem de um rapaz tremulando a bandeira brasileira em cima de uma banca de jornal. Ruas lotadas, um verdadeiro carnaval.
Entretanto, um país não é feito apenas de glórias; ou poderíamos dizer: "as glórias de um país não são apenas suas conquistas e felicidades".
O que acontece a uma pessoa que se apresenta apenas por suas qualidades? Quando você olha no espelho, só enxerga alegria? O que acontece, então, com uma sociedade que não quer olhar para as suas derrotas?
Essa, a maior derrota da história do esporte, deveria sim ter um memorial.
Sugiro um monumento, um totem para que pudéssemos lembrar e chorar. Para que homens e mulheres pudessem olhar e dizer: "sim, está lá, vencemos duras batalhas, mas também fomos vencidos". E então, questionar: "O que faremos com isso?".
Mas o recalcamento é tão profundo que petrifica a dor. Não sara. Não alivia. Permanece.
Não é por acaso que hoje tenhamos no poder gente tão vingativa, que vive a vida sentindo o gosto do fel.
O ódio alavancou o povo contra "os inimigos que humilharam a pátria".
Hoje, "cidadãos de bem" ocupam as ruas com a "camisa cinco estrelas", supostamente reparando as injustiças. Seria o símbolo da CBF a nossa suástica?
Até hoje me lembro de 2014, eu com 29 anos, estava em Bonfim Paulista. Ainda carrego a imagem de um garotinho chorando e escondendo a sua vergonha com a bandeira brasileira. Ruas tristes, gente se sentindo humilhada.
Lembrar, lembrar e lembrar. Sim, para não repetir. Pois quem dá valor às suas feridas, muda e se torna mais forte.
E não estou falando de futebol, mas se quiserem, podem fazer desse jogo uma grande metáfora para entender quem somos.
*Vinícius Barros é natural de Ribeirão Preto, historiador, fotógrafo e comercialino, tem 35 anos.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/