Bolsonaro no ataque
Bolsonaro não é de recuar. Ao contrário, só joga no ataque. Capota mas não breca.
A intenção, aliás, é essa: capotar. A figura melhor é: dar um cavalo-de-pau. Jogar para fora do carro quem ele acha que atrapalha.
Sempre foi de confronto. No Exército, forçou até ser expulso. Ao longo de 30 anos de vida pública antes de ser presidente (vereador por dois anos e deputado federal por 28 anos), nunca desdisse as barbaridades que o caracterizaram. Só as aumentou, na verdade.
Sempre truca, pede seis, pede doze, pede tudo batendo na mesa. A julgar pelo abrandamento de sua expulsão da carreira militar, pelas sucessivas reeleições parlamentares, pela vitória em 2018 e pelo mandato de presidente (até agora), truca e vence.
Na campanha, achava-se que ele iria maneirar para agregar votos e apoios. Não o fez. Assumindo, acreditava-se que envergaria a postura de presidente, comporia com outras forças, relaxaria o discurso. Nada. Que os militares o moderariam. Não.
Todo o oposto: só radicalizou desde a posse. Nomeou conservadores alucinados, expulsou aliados civis e militares, rompeu com seu partido (PSL), confrontou a imprensa, brigou com o Congresso e o Supremo, bateu nos militares, bateu nos ministros, bateu em todo mundo.
Duvidavam que ele demitiria o Mandetta. Demitiu. O Moro. Também. Que reveria a postura frente ao coronavírus. Ilusão: faz manifestações todos os domingos, vai à padaria, ao mercado, às feiras, a todo tipo de evento. E continua esticando a corda, acelerando. E não breca.
Nem vai brecar.
É importante entender isso para compreender o que parece ser um movimento de composição defensiva de Bolsonaro. Difunde-se que ele coopta o Centrão para se defender do impeachment. Nada disso.
Repita-se. Frise-se. À exaustão, que seja. Bolsonaro não joga na defesa. Ele só ataca.
E seu pretendido ataque maior já é conhecido há muito tempo, e cada vez mais. Obter poderes autoritários.
Há menos de dois meses, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, obteve do Parlamento poderes ditatoriais. Usou o argumento da pandemia da covid-19 e a necessidade de reunir poder para combatê-la. Adotou-se o estado de emergência por tempo indeterminado e Orbán pode governar por decretos.
Aqui, existe na Constituição Federal o artigo 137:
"Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta."
Bolsonaro avança, sempre no ataque. A reiteração do discurso de colapso econômico e de adversidades impostas pelo Congresso, pelo Supremo, pela imprensa, pelos governadores e pelos prefeitos é crescente e sempre na ofensiva, nunca como lamentação. Reúne gente, carreatas, redes sociais, caminhoneiros, polícias militares, milícias, jornalistas aliados, etc.
A visita-surpresa ao Supremo acompanhado de empresários é um ataque frontal, na área adversária. Pressão. Chuveirinho. A rainha cortando o tabuleiro. Mais volume no pote. Mais fervura no caldeirão. Pé fundo no acelerador – não existe pedal de freio.
O inciso I do artigo 137 da Constituição Federal é claro. E o parágrafo único diz que o Congresso deve aprová-lo por maioria absoluta.
Isso, na Câmara, são 257 votos. No senado, 41.
Em sessão do Congresso Nacional, conforme reza o parágrafo único do artigo 137 da Constituição Federal, são 298 votos.
Muitos votos?
Bolsonaro acha que talvez o Centrão os tenha.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/