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Blog do Juca Kfouri

A imortal paixão rubro-negra

Juca Kfouri

09/05/2020 13h34

POR JESUS CHEDIAK *

"Quando assumi a direção da Casa França-Brasil, convidei Walter Oaquim, querido amigo e velho companheiro de lutas políticas, para fazermos uma homenagem ao nosso saudoso amigo Nelson Rodrigues.

Sou tricolor e queria programar uma exposição com o título "40 Minutos antes do Nada", destacando a famosa frase de Nelson para exaltar o Fla-Flu.

Mas, no andar da carruagem, o Walter insistia em realizar uma exposição contando a história do Flamengo, já que ele assumira a presidência do Conselho dos Grandes Beneméritos do clube e queria marcar a sua gestão com um grande evento.

Aliava-se à insistência do Walter, o desejo de André Lazaroni, querido amigo e secretário de Estado de Cultura na época, mais um eterno rubro-negro apaixonado.

E também pensei em homenagear os 90 anos de Luiz Carlos Barreto, outro querido amigo, rubro-negro histórico, que chegou, inclusive, a jogar futebol no clube.

Acabei convencido de que um grande evento sobre o Flamengo promoveria a Casa França-Brasil em grande escala para um público heterogêneo de todas as classes sociais. Então programamos esta exposição "Flamengo, História de uma Paixão".

Mas, na verdade, eu aprendi a gostar do Flamengo com um tricolor, o Nelson Rodrigues.

No início dos anos 70, fui assistir a um Fla-Flu diante de 120 mil pessoas no Maracanã. O Fluminense perdeu por 5×2, em um desses dias em que tudo dá certo para o adversário, imaginem, o Doval fez até um gol de nuca.

Naquela época, eu tinha o hábito de tomar mingau de maisena com o Nelson, em um bar defronte ao Jornal dos Sports.

Na segunda-feira, um dia após o jogo, ainda com a cabeça quente pela derrota, na hora do mingau, desandei a falar mal do Flamengo, dizendo que o time nasceu da traição ao Fluminense, roubou até o santo do Cosme Velho, tomando São Judas Tadeu como seu padroeiro, etc.

Então, o Nelson me olhou sério e grave, disse emocionado: "Meu filho, nunca mais fale mal do Flamengo, se não existisse o Flamengo, não haveria o Fla-Flu."

Aprendi a lição e cá estou eu, um tricolor, orgulhoso de colaborar, mesmo modestamente, com a diretoria do Flamengo, para a realização desta magnifica exposição, sob a competente e dedicada curadoria de Nelson Ricardo, que nos conta a história da imortal paixão rubro-negra, consagrada em uma frase de Nelson Rodrigues: "Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia." Esse instante e esse dia chegam para a Casa França-Brasil, que, ao lado da secretaria de Estado de Cultura, nas pessoas da superintendente de Artes, Patricia Lins e Silva, e do secretário de Cultura, Leandro Monteiro, se sente sumamente honrada em acolher em seu espaço centenário a nação rubro-negra".

*Jesus Chediak morreu ontem, aos 78 anos, mais uma vítima da Covid-19. Era jornalista, teatrólogo e cineasta. Estava como diretor cultural da Associação Brasileira de Imprensa. O texto acima é de 2018.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/