Pois é isso, João Saldanha, nada mudou de lá para cá
*Publicado em 2001.
O maior prêmio de minha carreira como jornalista, e lá se vão 31 anos, ganhei-o no dia 12 de agosto de 1987, dado pelo imortal João Saldanha.
Uma coluna inteira dele no "Jornal do Brasil", comentando um artigo meu em Placar.
O título da coluna era "Pois é isso, Juca", e a tenho enquadrada, na parede de meu escritório.
Gostaria de reproduzi-la integralmente, mas, como o espaço não é suficiente, seguem alguns trechos que dão a medida de como nada mudou no pobre panorama de poder e desorganização em nosso futebol, até hoje às voltas com o calendário, com os campeonatos estaduais, com a corrupção.
"Peço licença ao Juca Kfouri para utilizar seus números da "Placar" que fazem a estatística de público dos campeonatos.
Sentem na cadeira mais próxima para não cair de bunda no chão. Lá vai. Campeonato paranaense: 2448 pessoas por jogo. E o Onaireves (Severiano ao contrário) bota uma banca enorme. O gaúcho é melhor, e talvez o sr. Hoffmeister se orgulhe de seu resultado: 2942 pessoas por jogo. Oba! É massa. Deve ser exatamente por isso que o Grêmio e o Internacional a toda hora vendem um craque. O campeonato mineiro ganha do gaúcho: 3148. Fantástico! Acho que o Mineirão está superado. Deve ser construído outro estádio. Onde meter a enchente de massa que assiste aos jogos do campeonato mineiro? Ah… mas temos… ainda Rio e São Paulo. O Rio, do Maracanã, e São Paulo, do Morumbi. Está bem. No Rio, a média é de 6637, e em São Paulo, de 7083. […] O que me admira é a impunidade e a desfaçatez com que estes homens que assaltam o poder do futebol fizeram leis que nem os gangsters de Chicago fariam. Conduzem os clubes à falência. […] E ninguém vai preso? Pois é, Juca. Eles estão soltos. É sim, soltos! Corrompem brutalmente, associam-se a qualquer grupo de marginais que mandam e desmandam no esporte brasileiro. Inverteram tudo. Compraram escandalosamente os votos a seus igualmente corruptos eleitores. […] Pois, Juca, os bandidos estão no poder nos esportes. Trata-se de mandá-los embora. Para sempre…Mas você tem razão em alertar para a manobra da cbf…"
Mais dois domingos, e fará 14 anos que João Saldanha, o João Sem Medo, escreveu o que ora transcrevo, ele com setenta anos de vida, a três de sua morte, na Copa de 90, na Itália, no campo de batalha, de onde nunca se afastou.
Parece mentira a constatação de que está tudo, exatamente tudo, igual.
Até Onaireves ainda é o mesmo – como Hoffmeister agora é Perondi, e Nabi virou Eduardo, e Otávio virou Ricardo.
O que mudou, mudou para pior. Melhor, apenas porque bem mais, só o dinheiro que envolve o mundo da bola.
Pois é isso, João.
Extraído do livro "Meninos, eu vi", de Juca Kfouri (editoras DBA/Lance!).
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/