Moraes Moreira e o Novos Baianos F.C.
POR CARLOSCARLOS*
No último dia 13 Moraes Moreira partiu em direção ao mistério do planeta: morreu dormindo, coincidentemente como o grande sambista Riachão, "o último malandro", que também nos deixou esses dias (em 30 de março) e era seu conterrâneo de Bahia, de axé e de música.
Moraes estava com 72 anos e vivia no Rio de Janeiro, era um apaixonado por futebol, ou poderíamos dizer fanático, louco, daqueles seres que realmente gostam de um objeto redondo rolando pra lá e pra cá.
Integrante do grupo musical "Novos Baianos", muito popular nos anos 70, era flamenguista doente (em seu Estado torcia pro Bahia) e foi peça-chave do grupo pra fazer uma mistura mais que especial entre futebol e música. Um dos álbuns deles foi intitulado de "Novos Baianos F.C.", pois de fato eles também eram um time de futebol e segundo o próprio Moraes, metia o maior medo nos adversários.
Após a sua morte lembrei do belíssimo documentário do meu amigo cineasta Lucio Branco, "Barba, Cabelo e Bigode", sobre companheiros de uma consagrada geração de craques do Botafogo que desafiavam o status quo em plena época de ditadura militar no Brasil, são eles: Afonsinho, Paulo Cézar Caju e Nei Conceição.
Lembrei que nesse doc tem um belo depoimento do Moraes sobre as peladas do seu "escrete musical", e assim falei com o Lucio me dispondo a editar esse trecho, ele topou e agora você pode assistir ao vídeo no link disponibilizado logo após esse artigo. Já o documentário na íntegra ainda não está disponibilizado na web.
Assistindo ao vídeo você vai perceber que o fato dos Novos Baianos F.C. serem praticamente imbatíveis tinha a ver com os reforços do futebol profissional que sempre estavam por lá: Afonsinho, o primeiro jogador profissional do Brasil a conquistar o Passe Livre, e Nei Conceição, jogador do Botafogo na época. Era o meio de campo dos sonhos praquele "time dos cabeludos", como era conhecido… e de fato os caras curtiam uma rebeldia, um cigarrinho de artista, eram ligados na contracultura, moravam no mato e faziam arte dentro e fora de campo.
No início de outro documentário, "Novos Baianos F.C.", do diretor Solano Ribeiro, o locutor diz assim:
"Não é uma família. Talvez um time. Novos Baianos Futebol Clube. Mais perto do seu som, no seu mundo "sobreterrâneo", à beira do abismo, por foras de ismos, na porta, varrendo o terreiro, lavando os pratos como quem faz música, sem prantos, na fonte, na boca da criação, na terra, num sítio…".
Tudo isso diz muito sobre Moraes Moreira, seus passos, seus amores, conceitos e reflexões. Mais tarde, já em carreira solo, fez belas canções com temas futebolísticos, entre elas "Vitorioso Flamengo" e "Saudades do Galinho", que compôs como forma de expressar seu inconformismo com a ida do maior ídolo da história do Flamengo para a Udinese, da Itália, no ano de 1983. Ele também gravou uma versão do hino do Bahia quando o clube se sagrou campeão brasileiro em 1988. Segundo ele, aquele "novo time do Bahia" era "uma mistura de fé, futebol e arte".
No vídeo a seguir você também vai ver Moraes dizendo que era o artilheiro do "Novos Baianos F.C." e seu estilo de jogo era uma mistura de dois grandes craques brasileiros, dá pra ver que modéstia em campo não era uma de suas características (risos), pelo jeito o cantador batia um bolão.
Fica aqui a nossa homenagem a esse grande músico e amante do futebol, desejamos que ele esteja jogando uma pelada estelar em um bom lugar.
Link para assistir ao vídeo: https://youtu.be/xrIUsoKADp0
*CarlosCarlos é Diretor e Apresentador do Programa Bola e Arte.
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