O menino e a bola
Por LUIZ GUILHERME PIVA
Para Mendel Bydlowski
"Eu vi um menino correndo" (Caetano Veloso, em Força Estranha)
Eu vi o menino correndo com a bola nos pés, brincando ao redor do tempo, abrindo caminhos e estradas sob o sol, jorrando riachos e criando novas artes, germinando novas pessoas em forma de bola nas barrigas das mulheres – o brilho da bola e dos olhos do menino abrindo fendas na finitude da estrada.
Eu vi os homens grisalhos sendo driblados pelo menino, a bola lhes passando entre as pernas e sonhos, eu os vi rejuvenescendo, a bola inflada pelo fogo da vida, a bola e a vida nos pés do menino, na estrada, nos pés, sob o sol, sobre o chão.
Eu ouvi os gritos dos homens cessando, suas vontades reveladas e expostas ao sol, aprendi que o menino e a bola são as coisas mais certas entre todas as coisas, a bola e o sol, o menino e a estrada, o caminho e o sol.
Por esse menino é que eu canto e vou sempre cantar.
Por ele correndo com a bola nos pés e forjando a força estranha que move a mim e a todos sob o sol, sobre a estrada, sem nunca cansar.
Por ele e sua bola.
Apesar dessa dor tamanha.
Por ele é que eu canto.
Não posso parar.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/