Melhor do que Pelé
Por RONALDO GUIMARÃES
Diziam: esse vai ser melhor do que Pelé.
As pessoas gostam de vaticinar, ser ciganas, perscrutadores, definir destinos, ler mãos.
Só que esse eu vi: melhor do que Pelé.
Quantas vezes eu o vi, no campo de várzea de Belo Horizonte, região noroeste, ele levando de uma área a outra só na embaixadinha, ou como uma foca ensinada de circo, controlando a esfera (como diziam os narradores de antigamente), na cabeça.
Bola grudada com durepoxi na cabeça e no bico da chuteira – cheia de pregos que não o incomodava muito, pois a sola do pé era uma crosta só – depois de receber um lançamento de 40 jardas. Até hoje não sei quantos metros tem uma jarda.
Numa pelada romântica e comemorativa de fim de ano, num lance fortuito e fora da área, tíbia e perônio espatifados como dente de traíra. Virou pescador. De traíra.
Hoje vende chicabom no Mineirão. Sentado no isopor, presta mais atenção no jogo do que no seu produto. Se bobear, a féria do dia não vai dar nem para pagar a condução de volta.
Volta mancando.
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