24: número de respeito
"O mito em torno do número 24 é uma grande bobagem que já passou da hora de ser ultrapassada. Precisamos desmitificar isso e aproveitar a ação para debater o preconceito e a intolerância no futebol".
A frase acima é do volante Flávio, do Bahia. O clube divulgou há pouco, em suas redes sociais, um vídeo para uma ação que ocorrerá nesta terça-feira (28).
O jogador vai trocar o número 5 pelo 24 no duelo desta noite, contra o Imperatriz, pela Copa do Nordeste, no Pituaçu.
Embora logo pareça uma justa homenagem ao eternizado Kobe Bryant, a causa do Tricolor de Aço de fato é uma campanha contra a homofobia, idealizada mais uma vez pelo corajoso clube baiano.
A bola da vez é um audacioso passo na luta contra a homofobia no futebol brasileiro, encampada pelo Bahia que, desde 2019, está na linha de frente de campanhas contra o machismo, racismo e homofobia.
O esforço acontece para debater o respeito no futebol e discutir um símbolo dessa agressividade em torno do número 24 entronizado com o lançamento do jogo do bicho, em 1892, como o "numero do veado", animal associado pejorativamente à homossexualidade. Historicamente, o número não existe nos uniformes de futebol masculino numa manifestação implícita contra os homossexuais.
A omissão não acontece só no futebol.
Em 2015, o gabinete 24 foi suprimido no Senado Federal, foi transformado em 26 sem qualquer explicação. Ambiente predominantemente masculino, com baixa representatividade, o fato destacou a institucionalização do preconceito e discriminação. Com a troca de mandato em 2019, a sequência das salas retornou à numeração normal.
"O futebol é um canal que pode servir para acentuar o que há de pior na nossa sociedade, como o racismo, as agressões, a violência e a intolerância, mas também pode servir de uma forma diferente – para espalhar cultura, afeto, sensibilidade, melhoria das relações humanas. Achamos que os clubes têm de escolher se serão canais de amor ou ódio. Escolhemos o amor", afirma Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.
Nota do blog:
Lembremos que recentemente o Corinthians trocou o número 24 que Victor Cantillo usava em seu clube a pretexto de lhe dar a 8, como homenagem ao também colombiano Fred Rincón,capitão do time campeão mundial em 2000.
Uma piada sem graça levou o autor, Duílio Monteiro Alves, diretor de futebol alvinegro, a se desculpar por ter dito que "24 no Corinthians, não!".
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/