O muro
Por ROBERTO VIEIRA
Franz jogava bola com Sepp.
Gerd jogava bola também.
Uma bola só, rasgada e murcha.
Pois a guerra ainda estava na memória de todas as ruas.
Um belo dia.
Franz acordou e não viu Sepp.
Nem Gerd.
Franz viu apenas o muro.
O muro imenso, escuro, frio e silencioso.
Franz não sabia.
Mas do outro lado do muro, Sepp chorou.
Gerd ficou mudo.
A bola também.
Tempo passou.
O muro se tornou parte da vida de Franz, Sepp e Gerd.
De vez em quando… tiros.
Sangue.
O muro virou emblema, poema e rock and roll.
Um belo dia.
Gritos de gol?
Franz decidiu derrubar o muro.
Tijolo por tijolo num desenho ilógico.
Seus olhos desbotados de política e lágrima.
O frio e o medo sob os olhos trágicos.
O nove de novembro se erguendo magico.
Em desconstrução.
De repente, o muro se tornou apenas um brinquedo.
Abstração.
E, para grande espanto de Franz, do outro lado, rápidos.
Sepp e Gerd também chegaram para desconstruir o passado.
Chorando, rindo se abraçaram.
Brincando de jogar bola adormeceram.
E o mundo compreendeu.
E um novo mundo amanheceu.
Melhor.
Foto:Pinterest
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