A invenção do milésimo gol
Por ROBERTO VIEIRA
Clodoaldo olha prum lado.
Toca pro outro.
Faz o lançamento entre os zagueiros vascaínos.
Fernando roça em Pelé.
O Rei cai sem grande estardalhaço.
Manoel Amaro corre.
Em João Pessoa, Ele escapou.
Mas agora estamos no Maracanã.
Andrada sacode a bola no chão, furioso.
Pelé está de joelhos.
Edu brinca com a bola.
Carlos Alberto manda todo mundo ficar no meio campo.
Os vascaínos cercam o árbitro.
Todos menos um que abre a cratera lunar na marca penal.
Pelé treme.
Abraça o adversário.
É abraçado por Andrada insistindo que Ele se jogou.
Onze jogadores sacaneiam Pelé.
Ele coça o queixo com o ombro.
Fica de costas para o destino.
Dá quatro passos.
Chuta no quinto.
Bate no canto esquerdo argentino.
Andrada trisca na pelota.
Andrada que quase não jogou.
Pensou em jogar a batata quente pro reserva, Valdir Appel.
A pelota beija o barbante.
Fotógrafos registram o milésimo gol.
Pelé beija a bola.
Andrada esmurra o gramado.
Rádios em todo planeta registram o instante.
A invenção do milésimo gol.
Para que em algum momento, no futuro.
Cinquenta anos depois.
A humanidade não duvide que um dia.
Pelé esteve entre nós.
Em carne, osso e camisa 10…
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