Futegolfe
Por EDUARDO MELLO*
O futebol, como a política, é a arte da conciliação, entre o tempo da bola e a antevisão da jogada.
Paulo Victor, desta vez, não foi político, apenas goleiro: no gol anulado de Everton Ribeiro, salta até o meio da área e soca, quando devia ter ficado, ou agarrado a bola. No de Bruno Henrique, a bola viaja por quatro segundos até o segundo pau. Quatro. Pouco em anos-luz, mas uma eternidade em anos-bola. Ele fica, quando era pra sair.
Mais um golpe, sem impedimento.
Mas o futebol, como a política, é dado a reviravoltas. Exige centro, visão periférica, trabalho de base. Luan recuperou a sua, libertou-se de alguma prisão domiciliar autoimposta.
Dá gosto reencontrar sua passada de flamingo, falso lento das pernas taco-de-golfe, de "wood". Joga futegolfe ao pifar Cebolinha, em cálculo de probabilidades geopolíticas de fazer inveja a Bismarck.
A tacada de Luan dá à bola velocidades variáveis que nem Einstein explicaria. Sai rápida no "approach"; desliza riscando o "green"; morre no ponto exato em que Luan, físico, calcula que Cebolinha ultrapassará o zagueiro. (Hipótese já testada de forma idêntica em Corinthians 0x1 Grêmio, em agosto de 2018)
Cebolinha telegrafa, porque a potência (E=mc2) permite, mas Diego Alves, pulso de aço, nega a matemática, faz lembrar Grohe de Guayaquil – esse sim, um estadista.
O Imortal dos Aflitos estará em desvantagem no placar, até que André rouba, Matheus Henrique lança Pepê, que corre feito piá, que lança Luan.
Luan com base, e pique, Luan plebeu que ouve Racionais, Luan que não se sentiu à vontade na condição de Rei, distante do povo da arquibancada, eleito só com o voto censitário dos comentaristas de bem.
Luan que já não escolhe a bola curta, fácil, estamental; busca a de sinuca, a mais difícil. É o truque do falso lento: tira da cartola a bola que recupera a velocidade da jogada, a vantagem da linha avançada do contragolpe.
Encontra quase na meia-lua Maicon, nosso Mestre-Sala, carioca marrento, que passa o pandeiro adiante.
Cebolinha dá outro petardo, dessa vez bem longe do goleiro, com raiva do lance anterior. Pepê evita que a bola chegue em André, empata.
1×1, Imortal é quem peleia!
O Flamengo é amplo favorito nas pesquisas, assim como na final da Copa do Brasil de 1997, 90 mil pessoas no Maracanã, mais o Romário.
O Grêmio? Perguntem pro Roger, pro Carlos Miguel. Nunca acreditou em opinião pública, caminho pavimentado, juízes da Corte.
Imortal Pagão, canonizado pelo hino de um Negro, sob inspiração de uma greve.
*Eduardo Mello é diplomata em Roma.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/