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Blog do Juca Kfouri

Futegolfe

Juca Kfouri

03/10/2019 19h53

Por EDUARDO MELLO*

O futebol, como a política, é a arte da conciliação, entre o tempo da bola e a antevisão da jogada.

Paulo Victor, desta vez, não foi político, apenas goleiro: no gol anulado de Everton Ribeiro, salta até o meio da área e soca, quando devia ter ficado, ou agarrado a bola. No de Bruno Henrique, a bola viaja por quatro segundos até o segundo pau. Quatro. Pouco em anos-luz, mas uma eternidade em anos-bola. Ele fica, quando era pra sair.

Mais um golpe, sem impedimento.

Mas o futebol, como a política, é dado a reviravoltas. Exige centro, visão periférica, trabalho de base. Luan recuperou a sua, libertou-se de alguma prisão domiciliar autoimposta.

Dá gosto reencontrar sua passada de flamingo, falso lento das pernas taco-de-golfe, de "wood". Joga futegolfe ao pifar Cebolinha, em cálculo de probabilidades geopolíticas de fazer inveja a Bismarck.

A tacada de Luan dá à bola velocidades variáveis que nem Einstein explicaria. Sai rápida no "approach"; desliza riscando o "green"; morre no ponto exato em que Luan, físico, calcula que Cebolinha ultrapassará o zagueiro. (Hipótese já testada de forma idêntica em Corinthians 0x1 Grêmio, em agosto de 2018)

Cebolinha telegrafa, porque a potência (E=mc2) permite, mas Diego Alves, pulso de aço, nega a matemática, faz lembrar Grohe de Guayaquil – esse sim, um estadista.

O Imortal dos Aflitos estará em desvantagem no placar, até que André rouba, Matheus Henrique lança Pepê, que corre feito piá, que lança Luan.

Luan com base, e pique, Luan plebeu que ouve Racionais, Luan que não se sentiu à vontade na condição de Rei, distante do povo da arquibancada, eleito só com o voto censitário dos comentaristas de bem.

Luan que já não escolhe a bola curta, fácil, estamental; busca a de sinuca, a mais difícil. É o truque do falso lento: tira da cartola a bola que recupera a velocidade da jogada, a vantagem da linha avançada do contragolpe.

Encontra quase na meia-lua Maicon, nosso Mestre-Sala, carioca marrento, que passa o pandeiro adiante.

Cebolinha dá outro petardo, dessa vez bem longe do goleiro, com raiva do lance anterior. Pepê evita que a bola chegue em André, empata.

1×1, Imortal é quem peleia!

O Flamengo é amplo favorito nas pesquisas, assim como na final da Copa do Brasil de 1997, 90 mil pessoas no Maracanã, mais o Romário.

O Grêmio? Perguntem pro Roger, pro Carlos Miguel. Nunca acreditou em opinião pública, caminho pavimentado, juízes da Corte.

Imortal Pagão, canonizado pelo hino de um Negro, sob inspiração de uma greve.

*Eduardo Mello é diplomata em Roma.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/