Amistoso de tolo
Por ROBERTO VIEIRA
Didi já dizia.
Amistoso é treino.
Jogo é jogo.
Copa é Copa.
Por isso não desperdiçava folha seca em amistosos.
Nem ele nem Pelé.
O repertório clássico aparecia nos grandes momentos.
Nos grandes palcos.
Quem já viu Caruso soltando gogó em mesa de botequim?
Alguém acredita que algo de bom acontece jogando futebol em Singapura?
Seria como um jogaço de cricket em Quixeramobim.
Um cut back no Saara.
Claro!
Há exceções.
Certa vez, num amistoso em Palmeira dos Índios.
Garrincha começou a dar dribles a torto e à direito.
Um show digno do Maracanã.
Foi, dizem as testemunhas, uma das maiores atuações de Mané.
Está descrito no livro do Ruy Castro.
Página 147.
Pois bem.
Didi e Quarentinha ficaram arretados.
'Calma, Mané!'
'Pra que tudo isso?'
Mas Garrincha nem deu bola.
Fez quatro gols e só sossegou no apito final.
Findo o jogo, ante o olhar abobalhado dos companheiros.
Saiu de braços dados com a Odete.
Coroa de olhos verdes e sorriso fácil.
Odete que era o motivo daquela exibição de gala.
Odete que era muito mais importante pra Garrincha que Copa do Mundo.
O que?
Qual a moral da história?
Simples.
Hoje em Singapura não havia uma Odete.
E sem Odete?
Amistoso é treino.
Em Singapura?
Até Mané joga no Senegal.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/