Para viver um grande amor (crônica Timbu)
Por ROBERTO VIEIRA
Para falar de amor, Vinícius.
Para falar de futebol, Nelson.
Para falar de ontem os dois e a vida.
Pois vida e futebol são a arte do impossível.
Para viver um grande amor no futebol é preciso sofrimento.
Derrotas históricas.
Vitórias mitológicas.
Uma multidão em desvario.
Idosos, moços, crianças em transe bíblico no antigo Templo.
Minutos que passam.
2×0 para o adversário.
Um atleta capengando em campo diminuindo o marcador.
Seu melhor jogador estraçalhado pelos cravos oponentes.
A razão dizendo não.
O coração preso no estádio dizendo sim.
Para viver um grande amor no futebol é preciso um pênalti no último lance.
Pênalti na mesma barra de trágicas recordações.
Quando os rivais da cidade já espoucavam champanhe.
Quando estávamos de joelhos.
E de joelhos assistimos o pênalti beijar as redes.
Corrigindo uma injustiça milenar.
Para viver um grande amor no futebol é preciso mais.
É preciso uma disputa de pênaltis na mesma barra.
É preciso que todos os pênaltis sejam convertidos.
Novos cristãos.
É preciso que nosso goleiro defenda também.
Como defendeu.
Com o espírito do magistral goleiro Djalma, campeão pernambucano de 1939.
Djalma cujas cinzas repousam nesta barra.
Pois este foi o último pedido do célebre Djalma ao falecer.
Para viver um grande amor no futebol é preciso amar.
E amar parece simples como Vinicius.
Simples como Nelson.
Mas apenas quem ama verdadeiramente o futebol poderá viver esse grande amor.
E cada coração, rubro negro, tricolor, azul, amarelo, verde, compreende muito bem.
Mesmo sem palavras.
Pois o futebol se escreve com lágrimas.
Um dia de tristezas.
Noutros de alegria.
Como o amor…
Foto: Leo Malafaiaa/Folha de Pernambuco
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