Náutico e Paysandu resgatam o futebol sem o VAR
Por ANTONIO CARLOS SALLES*
A decisão ontem entre dois dos mais tradicionais times de futebol do Norte e do Nordeste, assim como os outros jogos que definiram os acessos à Série B (ainda há uma partida hoje), deram aos torcedores novamente a emoção de um jogo sem os recursos tecnológico do VAR.
Eu já tinha esquecido como é bom um jogo corrido, polêmico, com jogadores batendo boca com árbitro e auxiliares, questionado suas decisões, com o banco de reservas implicando com o auxiliar, porque estamos perdendo o gosto de ver um jogo-raiz, como sempre foi o futebol, onde todos em campo assumem as consequências de seus atos.
Para o bem e para o mal.
Nostalgia? Definitivamente não porque sou da geração onde a tecnologia refina o que escapa ao espectro humano e amplia a relação ciência-sociedade ás adequações e necessidades de cada um.
O jogo em que o Paysandu abriu dois a zero e cedeu empate nos segundos finais dos acréscimo, levando a decisão a uma das vagas da B para os penalties, foi tomada pelo árbitro Leandro Vuaden por sua conta, risco e capacidade de decidir na hora em que o lance aconteceu, por mais polêmica, chata e decepcionante que me tenha sido, como torcedor do Paysandu.
Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco
O "olho no lannnceee", marca registrado do lendário narrador Silvio Luiz, voltou ontem a ser daqueles que dirigem a partida e não mais da salinha gélida que o boleiros apelidaram de "tribunal", onde pessoas sem rosto dizem aos árbitros e auxiliares aquilo que não puderam ver, mas que devem fazer.
O conforto de estar em campo e deixar o risco a terceiros, foi substituído ontem pelos juizes das arquibancadas, milhares de vozes que questionaram decisões contrárias ao Náutico, ampliaram a temperatura da decisão e gritaram gols no momento em que aconteceram, sem a angústia da validação ou não do "impedimento do dedinho do pé esquerdo".
A invasão da torcida do Timbú ao gramado dos Aflitos foi emocionante. Torcedores abraçando seus ídolos, mostrando a paixão pelo time, sorrindo felizes com sua conquista, atravessando o campo de joelhos enrolados na bandeira do clube.
Na Curuzu não seria diferente.
*Antonio Carlos Salles é jornalista.
Sobre o Autor
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