Ataque ou defesa
POR LUIZ GUILHERME PIVA
Um faroeste que vi numa madrugada perdida, na TV aberta, há muitos anos, tem um final inusitado. Não me lembro do nome do filme nem de seus atores – embora o protagonista, estou convicto, seja uma figura conhecida. Isso me livra de dar spoilers neste texto, mas o esquecimento me incomoda há muito tempo.
O sujeito resolve perseguir alguns malfeitores que desrespeitaram ou roubaram uma mulher. Obsessivamente, mas com muita calma e paciência, ele anda o filme todo ao encalço deles, com desencontros, retomadas, despenhadeiros, cavalgadas lentas deserto afora ou adentro.
Até que os fugitivos se escondem num casebre em cima de um morro. Ele estaciona ao sopé e resolve esperar que eles saiam para atirar de emboscada.
O tempo passa e eles não saem. Começa a anoitecer e a fazer muito frio. Ele se acoita debaixo de uma rocha, arma em punho, aguardando.
Todo mundo – no caso, eu, que devia ser o único a assistir ao filme àquela hora – aguarda o desfecho sensacional: a saraivada de tiros, sangue, talvez um sobrevivente que saísse no braço com ele quando as armas caíssem das mãos de ambos.
Que nada.
Quando amanhece, tudo enevoado, a câmara se aproxima e flagra nosso herói paralisado, com pedaços de gelo no rosto: ele está morto.
The end.
(Se alguém souber de que filme se trata, me escrevam, aos cuidados do Blog, por favor.)
E para quê esse nariz de cera tão grande, vovozinho?
É para te dizer, Chapeuzinho, que não podemos contar com o tempo a nosso favor. Não devemos confiar demais na nossa estratégia ou no erro do adversário, nem desprezar o aparecimento de um inimigo inesperado, mesmo que ele seja o acaso.
É preciso ir para cima, atacar, arriscar-se, ficar vulnerável e tentar conseguir nosso objetivo o quanto antes.
Você pode achar que este é um texto de autoajuda. Mas não é.
É de futebol que eu estou falando.
Contra os técnicos retranqueiros, comodistas, acovardados, pragmáticos.
A favor dos ofensivos, corajosos, ousados, inconformados.
Pode-se ser derrotado das duas formas, partindo para cima ou aguardando o melhor momento para a estocada fatal.
Mas é mais honroso perder na batalha do que congelado sob a rocha.
Sem contar que, para quem assiste, o filme, isto é, o jogo, fica muito melhor.
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Luiz Guilherme Piva publicou "Eram todos camisa dez" e "A vida pela bola" – ambos pela Editora Iluminuras
Nota do blog: Tiago Nunes não precisa ler mais essa bela crônica de Piva.
Certamente enfrentará o Inter, no Beira-Rio, com coragem.
Fábio Carille, sim.
Para não botar o Corinthians na retranca contra o Independiente Del Valle, em Itaquera.
Embora o autor ache que seja caso de hipotermia na certa.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/